Governo suíço trava bónus de 60 milhões da administração do Credit Suisse
A decisão abrange mil pessoas com cargos de administração no Credit Suisse, desde a comissão executiva até aos níveis intermédios, que deixarão de receber cerca 60 milhões de euros.
O Governo suíço deu instruções ao Credit Suisse para cancelar ou reduzir no mínimo em 25% os bónus que seriam recebidos pela administração do Credit Suisse, banco comprado pelo concorrente UBS no mês passado, naquela que foi a solução encontrada para evitar uma crise financeira global.
"O Conselho Federal [órgão governativo da Suíça] ordenou ao Departamento Federal de Finanças que cancelasse, ou reduzisse em 50% ou 25%, todas as remunerações variáveis pendentes devidas aos três níveis de administração do Credit Suisse. O banco tem, também, de avaliar se a remuneração variável já paga pode ser recuperada e reportar ao Departamento Federal de Finanças ou à Finma [regulador financeiro suíço] sobre este assunto", indicou o Governo suíço, em comunicado emitido esta quarta-feira.
Caberá ao UBS, acrescenta ainda o comunicado, assegurar que o seu "sistema de remuneração continua a ter em consideração, de forma apropriada, a avaliação do risco", bem como garantir que será tido em conta, como critério para a definição das remunerações, a integração "bem sucedida, isto é, da forma o mais rentável possível" dos activos do Credit Suisse cobertos pela garantia do Estado suíço.
A decisão de venda do Credit Suisse, por três mil milhões de francos suíços (aproximadamente o mesmo valor em euros), foi anunciada pelo Finma no mês passado, depois de dois dias de negociações intensas. O objectivo de implementar uma medida desta dimensão com esta rapidez era simples: restaurar a confiança no sector bancário e estancar as perdas sentidas nos mercados accionistas, evitando uma crise financeira.
Foi o desfecho de meses de uma fuga massiva de depositantes e de quedas acentuadas em bolsa, depois de, em Outubro do ano passado, o Credit Suisse ter anunciado a implementação de um plano de reestruturação profunda, numa altura em que enfrentava uma grave crise reputacional e financeira. Em causa está uma série de polémicas em que o histórico banco suíço se tem visto envolvido há vários anos.
Foi nesse contexto que o banco fundado em 1856 chegou ao fim e que, agora, se vê sob controlo apertado por parte das autoridades suíças, antes de a sua incorporação no UBS ficar concluída. Na última assembleia geral de accionistas do Credit Suisse enquanto instituição independente, que decorreu esta terça-feira, o presidente do conselho de administração do banco, Axel Lehmann, disse esperar que esse processo fique concluído até ao final do segundo trimestre deste ano.
No comunicado agora emitido, o Governo suíço justifica a imposição de limites aos bónus dos administradores com a legislação que permite a implementação destes travões nos casos de bancos sistémicos que tenham recebido ajudas estatais, como é o caso do Credit Suisse. Em causa, a garantia estatal que servirá para proteger a linha de liquidez de 100 mil milhões de francos suíços, providenciada pelo Banco Nacional da Suíça, bem como as potenciais perdas em que o UBS venha a incorrer quando vender activos do Credit Suisse.
Os limites às remunerações vão variar consoante o nível hierárquico dos administradores. "No Credit Suisse, todas as remunerações variáveis pendentes, relativas a 2022, serão canceladas para a comissão executiva, reduzidas em 50% para os membros da administração um nível abaixo da comissão executiva e reduzidas em 25% para os membros da administração dois níveis abaixo da comissão executiva. Esta abordagem diferenciada tem em consideração a responsabilidade dos administradores mais seniores na situação do Credit Suisse", esclarece o Governo, acrescentando que a mesma decisão será tomada quanto à remuneração variável relativa ao período de 2023 em que a fusão com o UBS ainda não está concluída.
A decisão, detalha ainda o executivo suíço, vai abranger cerca de mil pessoas com cargos de administração no Credit Suisse, que deixarão de receber, aproximadamente, 50 a 60 milhões de francos suíços (entre 50,48 milhões e 60,58 milhões de euros, ao câmbio actual).
Já a totalidade dos cerca de 49 mil trabalhadores do Credit Suisse tem uma remuneração variável pendente, também relativa ao exercício de 2022 e que está indexada ao valor das acções do banco, no valor global de 635 milhões de francos suíços.
"Quando esta remuneração variável foi atribuída inicialmente aos trabalhadores, valia 2,76 mil milhões de francos suíços. Por outras palavras, os trabalhadores já tiveram de suportar uma perda superior a 2 mil milhões de francos suíços, devido à desvalorização das acções do Credit Suisse", explica o Governo.
As pessoas afectadas pela decisão de limitar os bónus, conclui o Governo suíço, poderão exercer o direito de ser ouvidas pelas autoridades. No fim, será a Finma a avaliar e controlar a implementação das medidas por parte dos bancos.