As tartarugas estão a pôr mais ovos nas praias do Mediterrâneo. Porquê?

A crise climática e os programas de protecção podem estar a conduzir a maior tartaruga de casca dura do mundo para novos territórios. Desde 2012, o número de ninhos aumentou significativamente.

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Uma tartaruga nada no seu tanque no centro de recuperação de vida selvagem Taliarte, na ilha de Gran Canaria, Espanha Reuters/BORJA SUAREZ
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O biólogo marinho Alejandro Usategui alimenta tartarugas Caretta caretta no centro de recuperação Taliarte Wildlife, na ilha de Gran Canaria Reuters/BORJA SUAREZ
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Uma tartaruga nada no seu tanque no centro de recuperação de vida selvagem Taliarte Reuters/BORJA SUAREZ

Um número crescente de tartarugas marinhas está a fazer ninhos e a pôr ovos nas praias do Mediterrâneo ocidental, no que alguns cientistas sugerem poder ser um caso de como as alterações climáticas podem levar à expansão do habitat de uma espécie ameaçada.

Além do aquecimento da água do mar, os programas de protecção em países como Espanha e Cabo Verde serão um outro factor que provavelmente também está a beneficiar a maior tartaruga de casca dura do mundo, considerada uma espécie vulnerável.

Biólogos marinhos de França, Itália, Espanha e Tunísia descobriram muito mais ninhos da chamada tartaruga-comum (Caretta caretta) nas praias dos seus respectivos países durante a última década quando comparada com o período entre 1990 e 2012, quando a média era inferior a três por ano.

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Yurena Castrillo, veterinária do Centro de Recuperação da Vida Selvagem de Taliarte, trata uma tartaruga ferida REUTERS/Borja Suarez

Desde 2012, o número de ninhos aumentou significativamente, atingindo 84 em 2020, de acordo com os dados mais recentes disponíveis que constam num artigo publicado pela revista científica de ecologia Global Ecology and Conservation no Verão passado.

"Pensamos que esta tendência pode ser um novo processo de colonização", disse a bióloga Ana Liria, chefe da ADS Biodiversidad, uma organização não-governamental sediada em Taliarte, na ilha de Gran Canaria. O grupo resgata tartarugas feridas nas Ilhas Canárias de Espanha e estuda a sua população em Cabo Verde, a principal zona de reprodução do Atlântico Oriental.

As tartarugas-comuns habitam as partes mais quentes dos oceanos mundiais e estão presentes no Mar Mediterrâneo, mas instalaram-se principalmente num punhado de locais como a Florida, Cabo Verde, Omã, Moçambique e Austrália Ocidental. Os animais tendem a regressar ao seu local de nascimento para pôr ovos de poucos em poucos anos.

Uma tartaruga é libertada na praia de Melenara depois de recuperar dos seus ferimentos no centro de recuperação da vida selvagem Taliarte, na ilha de Gran Canaria, Espanha REUTERS/Borja Suarez
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Uma tartaruga é libertada na praia de Melenara depois de recuperar dos seus ferimentos no centro de recuperação da vida selvagem Taliarte, na ilha de Gran Canaria, Espanha REUTERS/Borja Suarez

Os especialistas argumentam que o Mediterrâneo terá ficado 1,3 graus Celsius mais quente entre 1982 e 2019, de acordo com um estudo de 2020 da fundação ambiental CEAM, com sede em Valência.

As alterações climáticas são geralmente prejudiciais à vida selvagem, mas as águas quentes tornaram-se aparentemente mais atractivas para as tartarugas nesta região, confirma Ana Liria, advertindo, no entanto, que a duração de vida destes animais que podem viver 100 anos significa que qualquer mudança de comportamento deve ser observada durante períodos muito mais longos.

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Os biólogos marinhos Ana Liria e Alejandro Usategui alimentam duas tartarugas no centro de recuperação da vida selvagem de Taliarte REUTERS/Borja Suarez

Além da possível influência das águas mais quentes, os programas de sucesso de protecção das tartarugas lançados a nível mundial nas últimas décadas têm também impulsionado a população de tartarugas, ajudando a elevar o seu estatuto acima do nível "em perigo" em muitas áreas, destaca a bióloga.

Uma tartaruga adulta pode medir 90cm e pesar 150kg. O seu tamanho e carapaça dura protegem-nos geralmente dos predadores, mas as redes de pesca, os motores dos navios e a poluição tornaram-se ameaças significativas.