Estudo identifica variáveis que controlam efeitos da seca nos ribeiros

Entre outras variáveis, os investigadores estudaram a influência do clima e da presença de detritos vegetais na redução do caudal de água de ribeiros.

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Trabalho dos investigadores da Universidade de Coimbra pode "ajudar a identificar ribeiros mais sensíveis e que necessitem de medidas de mitigação" Paulo Pimenta

Um estudo coordenado pela Universidade de Coimbra identificou os factores que controlam os efeitos da seca no funcionamento dos ribeiros, revelou esta quarta-feira aquela instituição de ensino superior. O projecto denominado "Uma meta-análise dos efeitos da seca na decomposição dos detritos nos cursos de água" (A meta-analysis of drought effects on litter decomposition in streams) é coordenado pelo Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Os investigadores conseguiram quantificar a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais ou a percentagem de número de dias com leito seco.

Das diversas variáveis estudadas verificou-se "que o tipo de comunidade aquática envolvida no processo de decomposição dos detritos vegetais condiciona a sua resposta à redução de caudal natural (sem intervenção humana directa), afirmou a líder do estudo e investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da FCTUC, Verónica Ferreira.

Existe "uma inibição mais forte deste processo, em cerca de 54%, quando a decomposição é realizada conjuntamente pelos microrganismos e pelos invertebrados do que quando a decomposição é realizada apenas pelos microrganismos, sendo a inibição neste caso de cerca de 22%".

A inibição do clima

O clima foi outras das variáveis identificadas, tendo-se constatado que "condiciona a resposta da decomposição de detritos à redução de caudal de origem humana, por exemplo, em resultado da abstracção de água para consumo ou agricultura, sendo a inibição deste processo mais forte em climas quentes e húmidos (inibição de 66%), do que em climas temperados e mediterrânicos (inibição de 33 e 36%, respectivamente)".

Verónica Ferreira referiu que foi também quantificada "a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais: por exemplo, uma redução de caudal de 10% inibe a decomposição de detritos em 06%, uma redução de 50% inibe a decomposição em 32% e uma redução em 80% inibe a decomposição em 46%".

Para identificar as variáveis que podem mitigar ou exacerbar os efeitos dos períodos de seca no funcionamento dos ribeiros, os cientistas utilizaram a meta-análise para compilar toda a evidência científica sobre os efeitos dos períodos de seca no processo de decomposição de detritos vegetais (folhas, ramos, etc.) em ribeiros.

Trata-se de um processo "fundamental", visto que "sustenta a cadeia alimentar aquática e tem um papel importante nos ciclos dos nutrientes e do carbono".

A investigadora frisou que os resultados conseguidos "permitem perceber que os ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente abundantes e desempenhem um papel importante na decomposição de detritos vegetais terão o seu funcionamento (aqui medido pelo processo de decomposição de detritos vegetais) mais afectado num contexto de aquecimento global que leve à redução do caudal em comparação com ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente pouco abundantes".

Esta informação "poderá ajudar a identificar ribeiros mais sensíveis e que necessitem de medidas de mitigação", concluiu.

O estudo contou com a participação do MARE, do Laboratório Associado ARNET- Aquatic Research NETwork, e também com a Universidade do País Basco (UPV/EHU), em Espanha.