SNS quer contratar psiquiatras e pedopsiquiatras até início de Maio

O director executivo também lamentou que o concurso para 40 psicólogos tenha demorado quase quatro anos e admitiu que as próximas contratações decorram através das Unidades Locais de Saúde.

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Fernando Araújo, director executivo do Serviço Nacional de Saúde MANUEL DE ALMEIDA

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) quer contratar psiquiatras e pedopsiquiatras até ao início de Maio para evitar a saída de jovens médicos e colmatar a falta de profissionais nesta área, considerada prioritária, anunciou esta terça-feira o director executivo.

"Vamos tentar que as contratações para estas áreas específicas, nomeadamente pedopsiquiatria e psiquiatria, aconteçam até ao final de Abril, início de Maio, para ganharmos um espaço de tempo considerável e evitarmos eventualmente a saída de potenciais médicos jovens que são precisos para dar uma força ao SNS nesta área considerada por nós prioritária", disse Fernando Araújo numa audição do grupo de trabalho de Saúde Mental da Comissão de Saúde. O director executivo do SNS explicou que as vagas costumam ser conhecidas em Junho/Julho e as contratações acabam por acontecer no final Agosto, início de Setembro.

"O que acontece é que os internos de formação específica acabaram os exames nestes últimos dias e o que vamos tentar é ainda durante este mês de Abril estabelecer o plano de vagas para o SNS e conseguir fazer os contratos nestas especialidades até ao final de Abril", disse Fernando Araújo, reconhecendo que é "um objectivo ambicioso, exigente". Segundo o responsável, isto significa ganhar três ou quatro meses reactivamente a anos anteriores para conseguir cativar e vincular profissionais de saúde no SNS.

Na sua intervenção, a deputada do PSD Helga Correia adiantou que cerca de 60% de doentes com perturbações do foro mental não terão acesso a cuidados de saúde mental, porque "a oferta é limitada ao Serviço Nacional de Saúde". "Ainda no ano passado havia mais de 12.000 utentes a aguardar a primeira consulta de psiquiatria para adultos nos hospitais públicos", disse a deputada, sublinhando que doentes muito prioritários chegam a esperar 97 dias para consulta de psiquiatria.

Face a este contexto, Helga Correia questionou o director executivo se considera que os serviços públicos de saúde estão em condições de assegurar "um adequado e suficiente acompanhamento clínico das pessoas com necessidade de cuidados de saúde". Em resposta, Fernando Araújo reconheceu ser verdade que uma grande parte das pessoas com perturbações de saúde mental não tem acesso a cuidados, mas disse também ser verdade que há uma parte da população que não recorre nem procura os serviços de saúde mental, por vezes, devido ao estigma.

Nesse sentido, defendeu que a política de saúde mental deve ter "instrumentos para conseguir, de alguma forma, ir ao encontro destas necessidades, por vezes escondidas" e que têm nesta lei "uma porta aberta para dar resposta nos mais variados canais a essas pessoas". Reconheceu também que os recursos humanos "não são suficientes neste momento", sendo objectivo da Direcção Executiva aumentar as respostas do ponto de vista das equipas multidisciplinares, não apenas de médicos, psiquiatras, pedopsiquiatras, de enfermeiros, mas de vários tipos de técnicos que estão também ao serviço destas equipas e que, em conjunto, "fazem um trabalho exemplar".

"Não estamos confortáveis com o número de profissionais e vamos tentar seguramente conseguir captar, conseguir contratar, conseguir motivar a ficar connosco no SNS jovens médicos que estão apaixonados por esta causa da saúde mental e que seguramente connosco poderão fazer um trabalho na defesa dos direitos destas pessoas", sublinhou Fernando Araújo.

Psicólogos para o SNS

O director executivo também lamentou que o último concurso para 40 psicólogos tenha demorado quase quatro anos e admitiu que as próximas contratações decorram através das Unidades Locais de Saúde EPE, para serem mais céleres. "Vamos tentar agora ter a capacidade de captar e contratar mais psicólogos para o SNS (...), se calhar, de uma forma diferente, através das EPE [entidades públicas empresariais] ou ULS [unidades locais de saúde] EPE, pois já não precisamos de utilizar estes mecanismos destes concursos, que são extremamente complexos, demoram anos e acabam por não ter uma resposta em tempo útil", disse.

"Através das unidades locais de saúde e através dos EPE temos forma de fazer [de maneira] mais célere e é uma das áreas em que vamos querer apostar, com contratações mais adequadas", acrescentou.

Fernando Araújo admitiu que o SNS precisa de mais psicólogos e disse lamentar que, para contratar estes 40 - que irão para centros de saúde -, tenham sido precisos três ou quatro anos. "Esperamos agora que esta abordagem que estamos a preparar seja muito mais célere nessa resposta que é necessária", acrescentou.

Abordou ainda a saúde mental dos jovens e adolescentes, dizendo que deve ser "uma preocupação de toda sociedade, começando nas famílias e nas escolas". "Como sociedade, temos de evoluir e ter mais capacidade para ter profissionais disponíveis para atender estes jovens e adolescentes", afirmou, lembrando os estudos indicam que, actuando no início destas patologias, se consegue "reduzir o impacto para os jovens e para a sociedade". "É uma das áreas que mais nos preocupa", sublinhou.