Mulheres que desafiem uso do véu no Irão serão julgadas “sem piedade”
O responsável pela justiça iraniana está a ser confrontado com um número crescente de mulheres que desafiam o uso obrigatório do véu islâmico.
O responsável pela justiça iraniana, Gholamhossein Mohseni Ejei, ameaçou julgar "sem piedade" as mulheres que continuem a aparecer em público sem hijab (véu islâmico). A informação foi avançada este sábado pelos meios de comunicação iranianos numa altura em que o número de mulheres a desafiar o uso obrigatório do véu continua a aumentar.
"[Estar sem véu] é equivalente a hostilidade segundo os [nossos] valores", salientou Ejei, citado por vários órgãos noticiosos. Aqueles "que cometerem tais actos anómalos serão punidos" e serão "julgados sem piedade", continuou o líder da justiça iraniana, sem esclarecer os detalhes das sanções.
Ao abrigo da sharia (lei islâmica), imposta após a revolução de 1979, as mulheres são obrigadas a cobrir o cabelo e a usar roupas compridas e soltas para disfarçar as suas figuras. Os violadores têm enfrentado reprimendas públicas, multas ou detenções. Ejei, que lidera o Supremo Tribunal do Irão, lembrou que os agentes da lei são obrigados a remeter às autoridades judiciais "qualquer tipo de anomalia que seja contra a lei religiosa e que ocorra em público".
Um número crescente de mulheres iranianas tem vindo a abandonar os seus véus desde a morte de Mahsa Amini, uma mulher curda de 22 anos que estava sob custódia da polícia da moralidade, três dias depois de ter sido detida por uso indevido do véu islâmico.
A polícia da moralidade foi criada em 2005 com a missão de deter pessoas que violassem o código de vestuário islâmico, especialmente mulheres que não usavam o véu islâmico de acordo com os códigos ditados pelo país. Em Dezembro, depois de meses de protestos nacionais devido à morte de Amini, o Irão aboliu esta força policial. No entanto, o judiciário continua a fiscalizar o comportamento das mulheres a nível comunitário, particularmente o vestuário.
A maioria das mulheres escolhem usar o hijab quando saem em público, mas usam as redes sociais para aparecer sem véu, em sinal de resistência.
O Ministério do Interior opõe-se a qualquer "recuo ou tolerância" sobre a lei, caracterizando o uso de hijab como "um dos fundamentos civilizacionais da nação iraniana" e "um dos princípios práticos da República Islâmica".