Finlândia vai às urnas e Sanna Marin não é a favorita a ganhar
Primeira-ministra tem boa avaliação internacional, mas o aumento do custo de vida e da dívida pública podem levar o centro-direita ao poder. Partido de extrema-direita está em segundo nas sondagens.
Sanna Marin, provavelmente a primeira-ministra mais mediática da Europa pelo menos no último ano e meio, chega este domingo às eleições legislativas da Finlândia sem ter a certeza de se manter no cargo. As sondagens apontam para um empate entre os três maiores partidos, com ligeira vantagem para o centro-direita e a extrema-direita.
O último inquérito de opinião divulgado pela televisão pública Yle, na quinta-feira, coloca a Coligação Nacional (centro-direita) com 19,8% das intenções de voto, à frente do Partido dos Finlandeses (extrema-direita), com 19,5%, e do Partido Social Democrata (centro-esquerda), de Sanna Marin, com 18,7%. O Partido dos Finlandeses regista uma subida face a anteriores sondagens, enquanto os outros dois caem.
A confirmarem-se estas projecções, será a segunda vez consecutiva que nenhum partido consegue obter pelo menos 20% dos votos, o que espelha a fragmentação do eleitorado finlandês. Nas eleições de 2019, os sociais-democratas venceram com 17,7% dos votos, apenas mais duas décimas do que o Partido dos Finlandeses (17,5%) e mais sete do que a Coligação Nacional (17%).
Com uma vitória tão apertada, o então líder dos sociais-democratas, Antti Rinne, formou uma coligação de Governo com cinco partidos, incluindo os liberais do Partido do Centro, que tinham estado no poder até então. Rinne demitiu-se em Dezembro de 2019 e Sanna Marin, então com 34 anos, tornou-se a primeira-ministra mais jovem do mundo.
A sua juventude fez correr tinta quando chegou ao poder (e não só), mas foram a posição firme contra a Rússia na guerra da Ucrânia e a adesão da Finlândia à NATO, que está prestes a oficializar-se, que lhe granjearam maior notoriedade internacional.
Sanna Marin “tem uma imagem internacional de espécie de estrela de rock, mas depois há o contexto político mais terra-a-terra”, diz à revista Foreign Policy o politólogo Teivo Teivainen, da Universidade de Helsínquia. “No seu próprio país, isto pode parecer evidente, não é uma rock star – é a representante de um partido, de uma tendência política. Há pessoas que gostam e pessoas que não gostam”, acrescenta.
A campanha eleitoral focou-se sobretudo em assuntos internos, como o estado da economia, o galopante custo de vida e a política fiscal. A dívida pública finlandesa aumentou para 70,9% do PIB no último trimestre de 2022 devido a um aumento da despesa pública durante a crise de covid-19 e, mais recentemente, por causa da crise energética.
Petteri Orpo, líder da Coligação Nacional, defende cortes na despesa pública e argumenta que o actual nível de dívida põe em causa o Estado social finlandês. Já Sanna Marin contrapõe que a direita quer fazer cortes que afectam precisamente esse Estado social e está mais favorável a um aumento de impostos.
Num cenário de previsível fragmentação parlamentar, a vitória nas eleições não significa necessariamente que o líder do partido mais votado venha a formar Governo e a ser primeiro-ministro. “Parece que muito vai depender do resultado dos partidos médios e pequenos”, diz ao The Guardian uma académica também da Universidade de Helsínquia, Emilia Palonen, especializada em populismos.
Segundo ela, o Partido dos Finlandeses é “um partido da direita radical etno-nacionalista e antimigração que racionalizou a sua linha ideológica e atrai um voto anti-sistema”. Algumas formações políticas, como os sociais-democratas, os Verdes ou a Aliança de Esquerda, que integram a coligação de Governo, já disseram não estar disponíveis para se entender com a extrema-direita.
Orpo, pelo contrário, não fecha nenhuma porta. “Haverá enormes diferenças relativamente à economia entre os sociais-democratas e nós, haverá enormes diferenças entre o Partido dos Finlandeses e nós sobre o tema da União Europeia”, disse à Foreign Policy. “Veremos. Primeiro quero ganhar as eleições...”