Um curto vídeo, onde se via um grupo de banhistas a nadar numa baía havaiana, publicado na terça-feira pelo Departamento de Terras e Recursos Naturais norte-americano, não era um aviso para os turistas. Segundo as autoridades, era a prova de um crime federal.
No vídeo, os banhistas pareciam estar a dirigir-se para o local onde estava um grupo de golfinhos e chegaram a escassos metros dos animais enquanto nadavam.
Como resposta, o departamento acusou estas 33 pessoas de "perseguirem agressivamente, encurralarem e assediarem" os golfinhos, informou em comunicado. Esta acção representa uma violação da Lei de Protecção dos Mamíferos Marinhos, que, em 2021, acrescentou medidas de protecção adicionais para o golfinho-rotador no Havai. Segundo os investigadores, a espécie é particularmente vulnerável devido à actividade humana nas baías deste estado norte-americano.
"Foi uma loucura", recorda Stephanie Stack, directora de investigação na área da biologia na Pacific Whale Foundation ao The Washington Post. "Só a quantidade de pessoas que estava a nadar na direcção daqueles golfinhos é bastante chocante", afirma.
De acordo com um porta-voz do departamento, os animais encurralados pelos nadadores eram golfinhos-rotadores. Durante uma patrulha, no domingo de manhã, alguns agentes encontraram os banhistas e informaram-nos do crime que cometeram, ainda antes de ser aberta uma investigação junto da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), informa o mesmo comunicado.
Apesar de existirem medidas de protecção que proíbem banhistas ou barcos de se aproximarem a menos de 50 metros de um golfinho-rotador no Havai, os especialistas acreditam que os danos causados pelos banhistas a esta espécie ainda são pouco conhecidos do grande público.
"É uma situação complicada. Muitas pessoas sentem-se no direito de nadar com a vida selvagem e a ter essa experiência, e, por isso, pode ser uma questão controversa. Acho que temos de nos lembrar que é a casa destes animais", alerta Stephanie.
Os golfinhos-rotadores dividem a "casa" em áreas separadas para dormir e para se alimentarem, "como se fosse um quarto e uma sala de jantar", explica Lars Bejder, director do Programa de Investigação de Mamíferos Marinhos da Universidade do Havai.
Durante o dia, juntam-se para dormir em baías abrigadas, como Honaunau Bay, o popular destino de snorkeling onde os 33 nadadores estavam. Depois, explica Lars, aventuram-se em águas mais profundas para se alimentarem à noite.
Evitar os banhistas durante o dia faz com que os golfinhos gastem energia e abdiquem do descanso de que necessitam para caçar e para se reproduzir. "Se fores para a cama à noite e tiveres alguém a bater em tambores fora da janela do teu quarto não vais conseguir dormir muito, certo?", ilustra o especialista.
Na mesma linha, adianta Stephanie, a investigação descobriu uma variedade de efeitos prejudiciais para os golfinhos-rotadores, incluindo o aumento da predação dos tubarões e a diminuição das taxas de reprodução. Além disto, estes cetáceos também podem abandonar as baías que costumavam frequentar. "Eles estão sob stress crónico. Tal como tudo, eles precisam de descanso", destaca.
Os golfinhos-rotadores não são uma espécie ameaçada, mas precisam de cuidados, como as restrições introduzidas pela Lei de Protecção dos Mamíferos Marinhos – e a aplicação das mesmas – para garantir que não ficam numa situação ainda mais vulnerável. A par disto, destaca Lars, as autoridades precisam que as pessoas aceitem estas regras e que os turistas deixem de ter esperança de nadar com golfinhos.
"Acho que se perguntarmos à maioria dos havaianos eles iriam concordar. A grande maioria das pessoas vai concordar que é bom deixar estes animais em paz."
Um porta-voz da NOAA não quis comentar a investigação, mas declarou que os infractores poderiam enfrentar multas. "A NOAA insta o público a observar os animais marinhos a uma distância segura e respeitosa", acrescenta.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post