Bandeira trans hasteada nos Paços do Concelho contra a vontade de Carlos Moedas
Vereadores da oposição levaram por diante acto protocolar aprovado na quarta-feira, ao contrário do que sucedeu em 2022. Presidente da câmara e vereadores dos Novos Tempos faltaram.
Ao contrário do ano passado, cumpriu-se o que estava previsto. “É simbólico, mas é importante. O simbolismo é importante para as lutas”. Foi desta forma, seguida de uma salva de palmas, que a vereadora Paula Marques, dos Cidadãos Por Lisboa (CPL), sintetizou o sentimento em relação ao acto protocolar que acabara de assumir, juntamente com colegas representantes de cada uma das forças políticas da oposição na Câmara Municipal de Lisboa.
Contra a vontade de Carlos Moedas e dos vereadores dos Novos Tempos (PSD/CDS/MPT/Aliança), que alegavam razões de ordem institucional, às 11h desta sexta-feira, acabou por se cumprir o hastear da bandeira da comunidade transsexual na principal varanda dos Paços do Concelho da capital, dando assim expressão ao Dia Internacional da Visibilidade Trans.
“Sabemos porque é que estamos aqui. Foi aprovada pela segunda vez uma saudação do Dia Internacional da Visibilidade Trans na Câmara de Lisboa. No ano passado, também foi aprovado. Para além da saudação, tinha também como função simbólica o hastear da bandeira trans no edifício dos paços do concelho. No ano passado, isso não aconteceu. E este ano foi dada uma posição de discordância por parte do senhor presidente da câmara e que, portanto, formalmente, ele não o faria”, começou por recordar a vereadora dos CPL, eleitos nas listas do PS.
Na cerimónia, que foi transmitida nas redes sociais, a antiga vereadora com o pelouro da Habitação e dos Direitos Sociais no anterior executivo, liderado pelo socialista Fernando Medina, fez questão de, antes de içar a bandeira, salientar que estavam presentes vereadores das outras forças políticas que subscreveram por completo o voto de saudação apresentado pelos CPL na reunião de vereação da passada quarta-feira: PS, PCP, Livre e Bloco de Esquerda. E convidou-os a participar neste acto, em conjunto com os funcionários da autarquia que estavam presentes.
“Vamos fazê-lo no sítio onde se proclamou a República, sim, porque o direito à República é o mesmo que o direito à diferença, actualizado para os dias de hoje. E, portanto, este é o sítio adequado para se fazer este gesto. Por ter sítio onde se proclamou a República, é o local adequado para se dar visibilidade à diferença”, afirmou Paula Marques, antes de incitar: “Por isso, pessoas bonitas, vamos hastear!”.
Na reunião de câmara de quarta-feira, o presidente da CML havia invocado a necessidade de se preservar a imagem institucional dos Paços do Concelho, para votar contra este acto, apesar de ter votado favoravelmente a saudação da autarquia ao Dia Internacional da Visibilidade Trans. “Defender os direitos trans? Com certeza. Mas eu sou um institucionalista. Não podemos andar aqui num percurso de continuar a pôr aqui bandeiras na nossa câmara. Podemos pô-las noutros locais, como na Praça do Município ou até no edifício do Campo Grande. Mas ali é o local onde se implantou a República”, disse Carlos Moedas.
No ano passado, e apesar da aprovação do mesmo acto simbólico, o mesmo acabou por não se cumprir. No dia 17 de Maio, o principal edifício da autarquia, viu, contudo, ser içada a bandeira arco-íris, que representa o movimento LGBTI, assinalando o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e a Bifobia.