TAP: “Não tomei a decisão, nem ajudei a tomar”, diz administrador financeiro sobre caso Alexandra Reis
Gonçalo Pires é a segunda personalidade a ser ouvida na comissão parlamentar de inquérito à TAP. O gestor contou que a TAP recebeu confirmação da tutela sobre forma de apresentar lucros de 2022.
O administrador financeiro da TAP, Gonçalo Pires, disse esta quinta-feira que não participou nem ajudou a negociar o acordo para a saída da empresa e o pagamento da indemnização de 500 mil euros à ex-administradora Alexandra Reis, mas admitiu algum conhecimento informal do processo antes da comunicação oficial feita a 4 de Fevereiro de 2022 por Manuel Beja, presidente do conselho de administração da empresa.
"Não tomei a decisão, nem ajudei a tomar", disse o administrador financeiro na comissão de inquérito à TAP. Gonçalo Pires revelou que teve conhecimento formal de que tinha havido acordo através de Manuel Beja. Dias antes, soube informalmente pela presidente da comissão executiva, Christine Ourmières-Widener, que poderia haver um acordo para a saída.
"Só soube que tinha sido fechado um acordo poucos dias antes", afirmou aos deputados. Negou, no entanto, ter participado, negociado, preparado, elaborado qualquer decisão relacionada com o acordo e até com o valor da indemnização. Mas assumiu que a saída de Alexandra Reis não o surpreendeu, dada a alteração accionista e as divergências com a presidente executiva.
Gonçalo Pires disse, aliás, que foi apenas já depois de ler as notícias sobre a indemnização - já no final de 2022 - que teve conhecimento "dos termos do acordo" e até que Alexandra Reis tinha começado por pedir um montante de indemnização próximo de 1,5 milhões de euros. O gestor explicou também que "apenas" autoriza despesas quando estas não têm cabimento orçamental. Ou seja, os pagamentos de salários são feitos normalmente sempre que estão dentro do previsto no orçamento. Disse ainda que a folha salarial da TAP tem picos de sazonalidade - quando há mais voos - e concluiu que uma indemnização daquele montante pode passar despercebida no volume total de salários pagos.
O gestor afirmou ainda não ter memória de ter comentado com algum membro das Finanças o processo. E revelou que só depois de Alexandra Reis sair é que soube que lhe foi atribuído um dos pelouros que a ex-administradora tinha (as compras).
O gestor foi ainda questionado sobre como foram definidos os termos da apresentação dos resultados de 2022 da TAP. O administrador contou que foi questionada a tutela sobre o modelo a usar, tendo esta – o Ministério das Infra-estruturas – dito que a TAP se devia "concentrar na informação aos investidores". A TAP apresentou lucros no ano passado e, embora a CEO ainda não tenha deixado as funções que exerce, não apresentou esses resultados.
Gonçalo Pires disse que essa comunicação com as Infra-estruturas foi feita "por e-mail". Disse ainda que era seu "entendimento" que a empresa devia "optar pela discrição". "Foi-nos confirmado [pela tutela] o dia [da apresentação] e a forma de apresentação dos resultados." Ainda nas respostas aos deputados, Pires disse que é "amigo há muitos anos" de João Galamba – o actual ministro das Infra-estruturas –, de quem foi "colega de faculdade". "Está entre os meus amigos mais chegados", notou.