Brasília blindada para evitar celebrações no regresso do “líder da oposição” Bolsonaro
Ex-presidente critica Governo de Lula da Silva e diz-se pronto para ajudar a direita. Assim que aterrar, passará a ser presidente honorário do seu partido.
Jair Bolsonaro aterra esta manhã em Brasília (pouco depois das 7h, hora local, 11h em Portugal continental), onde esperava discursar aos apoiantes e desfilar pela cidade em carro aberto, mas o esquema de segurança montado pela polícia federal não deverá permitir que o plano se concretize.
O ex-presidente, que estava há três meses nos Estados Unidos, terá de sair por uma porta alternativa, evitando a zona de chegadas onde poderia haver uma concentração de pessoas. Por outro lado, o trânsito em redor do aeroporto estará altamente condicionado e parcialmente encerrado na Esplanada dos Ministérios, com uma presença policial numerosa na Praça dos Três Poderes, atacada a 8 de Janeiro pelos seus seguidores.
Antes de embarcar, em Orlando, o ex-presidente disse à CNN Brasil que não vai “liderar nenhuma oposição”, mas “colaborar” com o seu partido, “com o que eles desejarem”: de acordo com a CNN, tanto Bolsonaro como o Partido Liberal “ficaram irritados” com os planos de segurança, que minam o objectivo de “fazer desta volta um evento para marcar o retorno do ‘líder da oposição’”.
“Você não precisa fazer oposição a esse governo. Esse governo é uma oposição por si só dado a qualificação daqueles que compõe os ministérios”, afirmou Bolsonaro. “Ele criou mais 14 ministérios, o perfil das pessoas é bastante diferente dos nossos, você pode fazer comparação aí no Brasil. E você começa a entender o porquê, queria que infelizmente fosse o contrário, não tem como dar certo esse governo”, afirmou, sobre o Governo de Lula da Silva.
"Temos hoje em dia uma direita que cada vez mais se aglutina, sabe o que quer, sabe o que deseja, tem um alvo, um objectivo, não é oposição irresponsável, oposição pela oposição", disse ainda ao canal de televisão.
Para além do anúncio do próprio Bolsonaro, o Partido Liberal (PL) também tencionava mobilizar os militantes nas redes sociais, mas depois de perceber as limitações de movimentos desistiu de o fazer, acabando por informar que “não está previsto qualquer evento ou fala do ex-presidente”.
Após o desembarque, segundo os media brasileiros, Bolsonaro vai encontrar-se com a sua mulher, Michelle Bolsonaro, com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e com o seu ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, que irão depois reunir-se com mais pessoas na sede do PL. Bolsonaro será a partir de agora presidente honorário do partido onde se inscreveu em Novembro de 2021, dois anos depois de ter saído do PSL (Partido Social Brasileiro), pelo qual foi eleito Presidente, em 2018.
Segundo afirmou à CNN, Bolsonaro planeia viajar pelo país “uma ou duas vezes por mês”, para conversar com os seus apoiantes.
"Página virada"
Bolsonaro saiu do Brasil a 30 de Dezembro e chegou à Florida a dois dias de concluir seu mandato para evitar assim participar na passagem de testemunho para Lula, após uma derrota que recusava reconhecer. Antes do voo, disse agora que o resultado de 2022 "foi bastante apertado", mas que as presidenciais são uma "página virada". Agora, diz, pretende colaborar com o PL na preparação para as eleições municipais do próximo ano.
Bolsonaro é alvo de pedidos de investigação que vão do genocídio contra o povo yanomami à propagação de fake news, recorda o jornal Folha de São Paulo. O processo mais avançado, que poderá impedi-lo de se candidatar a eleições, parte dos ataques contra o sistema eleitoral que terá feito numa reunião com os embaixadores realizada no Palácio da Alvorada.
Questionado pelo mesmo diário, Bolsonaro recusou responder sobre a intimação da Polícia Federal para depor sobre o caso das jóias que terá recebido em presente da Arábia Saudita e que tentou fazer entrar no Brasil. As jóias, avaliadas em três milhões de euros, foram encontradas na mochila de um assessor e apreendidas na alfândega, em Outubro de 2021. Depois disso, várias pessoas ligadas a Bolsonaro – ligadas a quatro ministérios e ao Exército, tentaram, sem sucesso, recuperá-las.