Mobilização popular muito fraca no regresso de Bolsonaro ao Brasil
Ex-presidente voou durante a noite a partir de Orlando, na Florida, onde ficou durante três meses. Nas primeiras declarações no Brasil, Bolsonaro disse que Lula estará “pouco tempo” no poder.
Jair Bolsonaro aterrou esta quinta-feira de manhã em Brasília e dirigiu-se à sede do Partido Liberal, no centro da cidade. Tanto Bolsonaro como a sua mulher, Michelle Bolsonaro, desceram até à rua para acenar ou cumprimentar alguns dos poucos apoiantes que se juntaram na rua. No interior do hotel onde funciona a sede do PL, Bolsonaro já esteve reunido com membros do partido e aliados de outras formações da oposição.
Não houve direito a qualquer discurso ou sequer comunicação através das redes sociais. Nas poucas palavras captadas pela imprensa brasileira quando Bolsonaro chegou à sede do seu partido, o ex-Presidente atirou-se ao Governo de Lula da Silva, prevendo que irá estar "por pouco tempo no poder", e saudou o Congresso que considera estar "melhor".
"O parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação", afirmou Bolsonaro, citado pela Folha de S.Paulo. A bancada de deputados e senadores afectos ao bolsonarismo aumentou nas últimas eleições.
A festa desejada pelo ex-Presidente e pelo Partido Liberal foi travada pelos planos da Polícia Federal, que impôs grandes medidas de segurança e limitações no trânsito em redor do aeroporto de Brasília.
Bolsonaro aterrou antes das 11h (7h em Brasília) e passou pelos procedimentos normais de quem aterra num voo internacional, mas deixou a zona reservada do aeroporto já de carro, numa comitiva que integrava duas viaturas da polícia e dirigiu-se para a sede do partido.
Na saída do aeroporto era esperando por alguns apoiantes, à chegada à sede do PL também – muito menos do que o esperado, diz a CNN Brasil, que fala em "meia dúzia de gatos pingados". O canal descreve como um "fracasso" a mobilização popular neste regresso.
"Onde eu vou pra abraçar meu presidente?", perguntou Tania Rocha Cezar, uma das pessoas 100 a 200 pessoas que se reuniram na zona de chegadas, ouvida pelo jornal Folha de São Paulo. Dona de casa de 77 anos, foi de autocarro de São Vicente para Brasília, uma viagem de mais de 20 horas, e ficou desiludida ao perceber que não o conseguiria ver.
A dificuldade de chegar ao aeroporto, e o facto de ter sido impedido o acesso a várias zonas ajudarão a explicar que as poucas pessoas que o esperavam no interior, explica a CNN Brasil, que entrevistou o ex-presidente antes do embarque e o acompanhou neste voo comercial. Entre estes apoiantes, que não chegaram a ver Bolsonaro, ouviram-se gritos de “mito, mito”, como se tornara habitual desde a sua eleição.
A CNN justifica cobertura ao vivo deste regresso pela “situação inédita” que faz deste um “acontecimento político” muito importante: um Presidente pela primeira vez não reeleito, depois da eleição “mais disputada” da história e que decidiu não passar a faixa presidencial ao seu sucessor, Lula da Silva, saindo mesmo país ainda antes de terminar o seu mandato.
Com ele voaram Max Guilherme Machado de Moura, sargento reformado da polícia militar do rio de Janeiro, que trabalha com Bolsonaro desde que este era deputado federal e é um dos seus assessores mais próximos; Marcelo Costa Câmara, coronel do Exército que fazia parte da sua equipa de segurança e era responsável por “uma espécie de sector informal” dos serviços secretos (segundo o jornal O Globo); e Sérgio Rocha Cordeiro, capitão do Exército e assessor especial do ex-presidente desde 2019.
"O capitão voltou"
Inicialmente, Bolsonaro esperava discursar aos apoiantes e desfilar pela cidade em carro aberto, mas o esquema de segurança montado estragou esse objectivo. De acordo com a CNN, assim que aterrou Bolsonaro foi informado de que não poderia sair do aeroporto pela via normal, uma indicação que não era opcional, mas determinada pela Polícia Federal.
Na chegada à sede do PL, atravessou uma sala repleta de aliados que tentavam abraçá-lo e entoavam "O capitão voltou". Estava previsto que se encontrasse primeiro com a sua mulher e com os filhos, com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e com o seu ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, que foi seu "número dois" na corrida à presidência, o ano passado. Este primeiro encontro estava marcado para o gabinete de Michelle Bolsonaro, que tomou posse há dias como presidente do PL Mulher.
Bolsonaro será a partir de agora presidente honorário do partido.
Para além das limitações no aeroporto e da sede do PL, o trânsito também foi parcialmente encerrado na Esplanada dos Ministérios, com uma presença policial numerosa na Praça dos Três Poderes, atacada a 8 de Janeiro pelos seus seguidores.