Cientistas detectam um dos maiores buracos negros já observados com nova técnica

Astrónomos detectaram um buraco negro supermaciço, onde o nosso Sol caberia 30 mil milhões de vezes, no centro da galáxia Abell 1201. Este resultado confirma previsão lançada há quase duas décadas.

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Representação artística do campo gravitacional do buraco negro a distorcer o espaço à sua volta Sky Survey/Nick Risinger/N. Bartmann/ESA/Hubble

Uma equipa de astrónomos detectou um dos maiores buracos negros já observados, através de uma técnica nova que pode vir a revelar mais informação sobre os milhares destes gigantes cósmicos que devem ser descobertos nos próximos anos.

Este buraco negro supermaciço tem uma massa equivalente a mais de 30 mil milhões da massa do Sol, segundo o estudo publicado esta quarta-feira numa revista científica da British Royal Astronomical Society. É o primeiro buraco negro cujas características são determinadas graças à técnica de detecção por lentes gravitacionais.

Esse fenómeno é provocado pela presença de um objecto tão massivo – uma galáxia ou um buraco negro supermaciço – que dobra o espaço-tempo. Portanto, a luz oriunda de uma fonte distante aparece distorcida quando passa por perto.

Mas enquanto podemos observar uma galáxia, mesmo a grande distância, não podemos (literalmente) ver um buraco negro. Este objecto cósmico tem a particularidade de ser tão denso que nem mesmo a luz lhe consegue escapar, o que o torna “invisível”.

Desta vez, os astrónomos tiveram “muita sorte”, como explica James Nightingale, astrónomo da Universidade de Durham (Reino Unido) e autor do estudo, em declarações à agência AFP. Os investigadores conseguiram observar a luz de uma galáxia localizada muito atrás do buraco negro, a Abell 1201, e cujo caminho parecia ser desviado pelo próprio buraco negro, a cerca de dois mil milhões de anos-luz da Terra.

Diz-se que a maioria das galáxias tem um buraco negro no seu centro, mas, até agora, para detectar a sua presença era necessário observar as emissões de energia que os buracos negros produzem ao absorver a matéria que se aventurou muito perto deste objecto cósmico ou, então, observando a sua influência na trajectória das estrelas que estão em órbita ao seu redor.

Estas técnicas, no entanto, funcionam apenas para buracos negros suficientemente próximos da Terra. A técnica de lente gravitacional permite aos astrónomos “descobrir buracos negros em 99% das galáxias actualmente inacessíveis” à observação tradicional, por estarem muito distantes, sublinha o astrónomo James Nightingale​.

Existem cerca de 500 lentes gravitacionais, mas “este cenário está prestes a mudar dramaticamente”, de acordo com o astrónomo britânico.

A missão Euclides da Agência Espacial Europeia, com lançamento previsto para Julho deste ano, dará início a “uma era de ‘​big data’ [grandes volumes de informação]” para os caçadores de buracos negros, permitindo criar um mapa de alta resolução para uma parte do Universo, acrescenta o cientista.

Segundo James Nightingale, em seis anos de observação, a missão Euclides poderá detectar até cem mil lentes gravitacionais, podendo incluir a descoberta de vários milhares de buracos negros.

A descoberta agora publicada pela equipa de astrónomos é baseada em simulações de computador e imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble. Estas observações confirmam e explicam as simulações realizadas há 18 anos por um astrónomo da Universidade de Durham e colega de James Nightingale, Alastair Edge, que suspeitava da presença de um buraco negro no centro da galáxia Abell 1201.