“Não é possível tudo em todo o lado ao mesmo tempo”, diz ministra da Justiça

Catarina Sarmento e Castro esteve no Parlamento mas não se comprometeu em relação à greve e às reivindicações dos oficiais de Justiça.

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Catarina Sarmento e Castro à entrada para a comissão parlamentar LUSA/ANDRE KOSTERS

A ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, disse esta quarta-feira no parlamento, a propósito da greve de oficiais de justiça que está a decorrer nos tribunais desde meados de Janeiro, que não é possível ter tudo em todo o lado ao mesmo tempo. "Digo-o sem ironias”, afirmou a governante, depois desta alusão ao filme que venceu a última edição dos Óscares.

Catarina Sarmento e Castro foi chamada à comissão parlamentar de direitos liberdades e garantias pelo PSD por causa da paralisação que mais prejuízos tem causado à justiça, a decretada pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais, em curso desde meados de Fevereiro. Trata-se de uma paralisação sui generis, em que os trabalhadores se mantêm no posto de trabalho a fazer atendimento ao público e a tramitar processos, recusando porém a prática de determinadas diligências, como julgamentos e interrogatórios. Já foram adiadas mais de 20 mil diligências, numa paralisação decretada como ilegal pelo Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República.

Tanto o PSD como outros partidos da oposição quiseram saber se o Ministério da Justiça tenciona abrir processos disciplinares aos funcionários que continuarem a fazer este tipo de greve. Porém, nesta como em muitas outras questões, a ministra furtou-se a prestar esclarecimentos. Remetendo o assunto para o Conselho dos Oficiais de Justiça, órgão a que superintende a directora-geral da Administração da Justiça, apenas disse que o parecer do conselho consultivo, pedido e emitido já o protesto estava a decorrer há várias semanas, não terá efeitos retroactivos: "Começa a produzir efeitos daqui por diante", depois de publicado em Diário da República, permitindo assim "regular comportamentos".

Catarina Sarmento e Castro alegou que não podia ter-se assegurado da legalidade do protesto antes de ele começar: "O Governo não valida previamente com qualquer instituição o exercício do direito à greve, mas avalia no terreno as consequências dessa greve. Não poderia haver qualquer tipo de fiscalização prévia".

Acima de tudo, a governante não disse em que horizonte temporal será possível chegar a acordo com os sindicatos, por forma a que o protesto possa terminar. O que fez a deputada social-democrata Mónica Quintela acusá-la de se estar a tornar na coveira da Justiça. “Esta greve tem de parar. Os tribunais estão num caos”, declarou a parlamentar.

Já a ministra garantiu que as principais reivindicações do Sindicato de Funcionários Judiciais deverão ser contempladas na revisão do estatuto dos oficiais de justiça, que a tutela tem em curso em conjunto com os ministérios das finanças e da administração pública. É o caso do suplemento salarial que estes trabalhadores querem ver pago 14 vezes por ano, em vez dos actuais onze: “É, de facto, uma questão justa. Os oficiais de justiça têm este suplemento há vários anos e foi-lhes prometido há muito que seria integrado no vencimento. Mas se o Governo está a fazer a revisão de um estatuto em que deve considerar esse e outros direitos, naturalmente que isso vai acontecer no âmbito da revisão” observou.

Não tendo a revisão do estatuto terminado, explicou a governante, não é possível dar neste momento garantias aos trabalhadores. “Não podemos lançar neste momento concursos para carreiras quando essas carreiras vão ser modificadas”, exemplificou, admitindo ser compreensível que os funcionários estejam descrentes de promessas governamentais velhas de anos.

A falta de respostas concretas de Catarina Sarmento e Castro e as constatações óbvias e generalistas que fez levaram Mónica Quintela a queixar-se de que mais não fez do que proferir vacuidades nesta audição, que já tinha estado marcada antes mas que a ministra adiou para esta quarta-feira. Ainda assim, a governante garantiu estar a fazer tudo para que a greve termine, continuando a manter reuniões mensais com os sindicatos através de um dos seus secretários de Estado.

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