No País dos Arquitectos: A nova casa da EDP e o desafio de permitir que o espaço público atravesse edifícios

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“Como fazer um edifício, que, na verdade, são dois, que funcionam como um só, mas que podem estar separados para permitir que o espaço público os atravesse?” foi uma das questões de partida para a construção do novo edifício da EDP,“Como fazer um edifício, que, na verdade, são dois, que funcionam como um só, mas que podem estar separados para permitir que o espaço público os atravesse?” foi uma das questões de partida para a construção do novo edifício da EDP
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No 53.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Alejandro Aravena, do gabinete de arquitectura Elemental, sobre o novo edifício da EDP, em Lisboa.

Poder-se-ia começar por referir que o arquitecto Alejandro Aravena foi curador da Bienal de Veneza e foi distinguido com o Prémio Pritzker, mas há um aspecto que se destaca no seu currículo: o compromisso que a sua arquitectura desempenha na resposta aos desafios actuais, como o crescimento exponencial da população, a escassez de recursos, a pobreza e a desigualdade. Tal como no contexto português, onde actualmente se discute as novas medidas anunciadas pelo Governo sobre a habitação, Alejandro Aravena reconhece que o mundo enfrenta uma crise habitacional. E está disposto a encontrar soluções para a resolver.

Durante a entrevista, o arquitecto fala sobre o projecto que desenvolveu em Iquique, no Chile, denominado como “meia casa”. Perante a tendência para o aparecimento de “construções informais”, os arquitectos do Elemental decidiram criar “metade de uma casa”: “O tamanho médio onde a classe média pode viver razoavelmente bem é entre 80, 90 ou 100m2. Em países relativamente pobres como o Chile, as políticas públicas normalmente só conseguem entregar 40 a 50m2. Não há mais dinheiro.”

Como os fundos públicos não permitiam fazer uma casa de 80m2, a abordagem do arquitecto foi pragmática. Decidiram construir apenas metade das casas, a partir do investimento do Governo chileno, deixando a cargo das famílias a construção da outra metade, para quando estas pudessem aumentar as suas habitações: “A nossa reformulação do problema foi considerar metade de uma boa casa (...). A definição de política pública é fazer a metade que as famílias não conseguirão fazer sozinhas.” Já passaram vários anos desde a construção destas habitações e o arquitecto revela que as casas, que na altura custaram 7.500 dólares, estão agora valorizadas em 70.000 dólares: “[Estas famílias] sabem que não são mais um fardo para a sociedade e podem sustentar-se pelos seus próprios meios.”

Sobre o projecto do novo edifício da EDP – ainda em construção – que se destina a um espaço de escritórios, Alejandro Aravena lembra que, numa primeira fase, existiam dois edifícios que tinham de ser conectados, mas sabia-se que, depois dessa ligação ser criada, a vista para o rio ficaria ameaçada. Portanto, permanecia a dúvida: “Como fazer um edifício, que, na verdade, são dois, que funcionam como um só, mas que podem estar separados para permitir que o espaço público os atravesse?” A partir desta questão, avançaram para uma hipótese: “Surgiu a ideia de dobrar a praça que existia entre os dois edifícios – e que passa a funcionar como praça pública (...) –, essa praça foi dobrada para que debaixo [dela] (...) tivéssemos a conexão.” Sendo a relação com a cidade uma das premissas do projecto, o arquitecto revela que, na praça, existirá uma plataforma que servirá como miradouro para o rio Tejo.

Tanto Alejandro Aravena, como Manuel Aires Mateus – autor do outro edifício da EDP, com quem Sara Nunes já se esteve à conversa no podcast, no 25.º episódio – consideram que os espaços informais promovem a criatividade: “Eu diria que, cada vez mais, o local de trabalho irá sofrer mudanças, pois deixará de ser definido pelo [número de] secretárias, para passar a ser medido [pelas] salas de reunião, a copa (...), ou a praça lá fora. É a interacção social que pode ser benéfica para a produção e a troca de conhecimento”, explica Aravena.

No final da conversa, Alejandro Aravena fala sobre o papel dos arquitectos na sociedade e identifica dois lados: os “génios criativos” e “aqueles que se envolvem com a comunidade”. O arquitecto acredita no potencial de cada um e reflecte como podem convergir: “Este é um diálogo horizontal onde eu sei algumas coisas e as outras pessoas sabem outras coisas (...). Portanto o desafio é: em vez [dos arquitectos] optarem por serem génios criativos – que lidam com questões que só interessam outros arquitectos –, ou serem aqueles que se envolvem com o que é importante para a sociedade, mas que não desenvolvem projectos... podemos, [enquanto arquitectos], envolver-nos em conversas, problemas e desafios que importam a sociedade? Mas, ao entrarmos nesse diálogo, [comunicar] com o conhecimento específico que temos, desenvolvendo projectos.”

Para saber mais sobre a forma como Alejandro Aravena pensa a arquitectura, ouça a entrevista na íntegra.


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