Junta militar birmanesa dissolve partido de Aung San Suu Kyi
Por não se apresentarem às eleições organizadas pelo regime, 40 partidos foram extintos pelas autoridades eleitorais, incluindo o NLD que ganhou as últimas eleições por larga margem.
A junta militar que governa a Birmânia anunciou a extinção de 40 partidos políticos, incluindo a Liga Nacional pela Democracia (NLD), de Aung San Suu Kyi, numa altura em que organiza eleições que visam legitimar a tomada do poder pelas Forças Armadas.
As autoridades eleitorais revelaram uma lista de 40 partidos que foram dissolvidos por não terem apresentado qualquer candidatura às eleições que ainda não estão marcadas, segundo a Reuters que cita o canal televisivo Myawaddy TV. A expectativa é que as eleições sejam vencidas com facilidade pelo Partido da União Solidariedade e Desenvolvimento (USDP), a organização política controlada pelo Exército.
A dissolução do NLD marca um novo capítulo do aprofundamento do controlo militar na Birmânia. O partido da vencedora do Prémio Nobel da Paz tinha alcançado uma vitória avassaladora nas últimas eleições legislativas, em Novembro de 2020, um resultado visto como fundamental para que a transição democrática da antiga colónia britânica fosse bem-sucedida.
Porém, os militares rejeitaram os resultados, alegando ter havido irregularidades, e a 1 de Fevereiro de 2021, no dia em que o novo Parlamento deveria tomar posse, derrubaram o Governo eleito, prenderam vários dirigentes políticos, incluindo Suu Kyi, e instalaram uma junta ditatorial.
Desde então, os militares têm enfrentado enorme resistência e combatem em várias frentes. Para além de reprimirem grupos que apoiam o regresso do regime democrático, há várias insurreições armadas organizadas por grupos étnicos minoritários espalhados pelo país.
Suu Kyi, de 77 anos, continua a ser o rosto mais conhecido e representativo da luta contra o regime militar. A activista, que por lei não pôde desempenhar um cargo oficial no anterior Governo, foi condenada a uma pena de 33 anos de prisão por vários crimes de corrupção e divulgação de segredos de Estado, mas as Nações Unidas e várias organizações de defesa dos direitos humanos consideram que os processos movidos contra Suu Kyi e outros líderes são politicamente motivados.
Suu Kyi, filha do primeiro líder pós-independência, Aung San, passou 15 anos em prisão domiciliária por ordem da anterior ditadura militar e em 1991, recebeu o Prémio Nobel da Paz.
Os dirigentes do NLD que ainda se mantêm em liberdade rejeitaram participar nas eleições organizadas pela junta por não as considerarem legítimas. “Não interessa que digam que o nosso partido foi dissolvido ou não; mantemo-nos com o apoio do povo”, afirmou Tun Myint, um dos líderes do partido.
O Governo Nacional de Unidade, como é conhecido o governo no exílio que tem contestado a legitimidade da junta militar, apoiou a decisão dos partidos que decidiram boicotar as eleições. “Os partidos políticos que respeitam os desejos do povo não se candidataram”, afirmou o porta-voz Kyaw Zaw.
Inicialmente, as eleições estavam marcadas para Agosto, mas o líder da junta militar, o general Min Aung Hlaing, prolongou o estado de emergência por mais seis meses em Fevereiro e adiou indefinidamente a votação por razões de segurança.
“A maioria da população opõe-se de forma firme a uma ida às urnas para legitimar o controlo político do Exército, portanto iremos assistir a um recrudescimento da violência se o regime quiser impor uma votação, e a grupos de resistência a procurar interferir com esses esforços”, disse à Reuters o analista do International Crisis Group, Richard Horsey.