Em 2022 houve mais de seis mil mortes em excesso e o envelhecimento não explica tudo

Risco de morrer continuou mais elevado em 2022 do que antes da pandemia de covid-19. Instituto Ricardo Jorge identificou quatro períodos de mortes acima do esperado.

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Instituto Ricardo Jorge identificou mais de seis mil mortes em excesso em 2022 Paulo Pimenta

Em 2022, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) contabilizou 6135 óbitos em excesso em quatro períodos que coincidiram com semanas de maior incidência de covid-19 e de gripe, e vagas de calor e frio. Mas os investigadores do Insa não conseguem esclarecer se estas serão as únicas causas que justificam a mortalidade por todas as causas acima do esperado observada no ano passado ou se haverá outras, porque o envelhecimento populacional não chega para explicar a persistência de um risco de morrer mais elevado do que antes da pandemia.

Com a pandemia de covid-19, houve uma alteração do padrão da mortalidade que não se normalizou em 2021 nem no ano passado, segundo o Insa. O risco de morrer continuou mais elevado em 2022, um fenómeno que “não parece totalmente explicado pelo envelhecimento populacional, que até 2019 parecia ser o principal factor associado ao aumento da taxa bruta de mortalidade”, sublinham os investigadores do Departamento de Epidemiologia no relatório de monitorização que divulgaram esta terça-feira. Não avançam outras hipóteses, argumentando que estas apenas poderão ser equacionadas depois de conhecidas as causas de morte, o que deverá acontecer apenas na Primavera do próximo ano.

“Com os dados disponíveis não é possível responder se o aumento do risco de morrer é totalmente explicado pelos eventos identificados (gripe, covid-19, calor e frio extremos) ou se outros factores, associados à pandemia de covid-19, terão contribuído indirectamente para o aumento da mortalidade ou para a potenciação do efeito dos factores identificados", sustentam.

Olhando para os dados, percebe-se que, no primeiro semestre de 2022 e até Julho, a mortalidade por covid-19 ainda foi significativa e constituiu um dos principais factores que terá contribuído para o excesso da mortalidade. Mas no segundo semestre os óbitos por covid-19 diminuíram e, ainda assim, ocorreram mais dois períodos de óbitos por todas as causas acima do esperado.

O primeiro período de excesso de mortalidade identificado ocorreu entre 17 de Janeiro e 6 de Fevereiro (891 óbitos) e foi coincidente com uma onda de covid-19 e um período de temperaturas baixas; o segundo foi observado entre 23 de Maio e 19 de Junho e coincidiu com uma vaga de covid e um período de "temperaturas anormalmente elevadas para a época do ano"; o terceiro, de 4 de Julho a 7 de Agosto, com 2401 mortes em excesso, ocorreu durante "períodos de calor extremo” e o quarto, entre 28 de Novembro e 18 de Dezembro, com 1099 óbitos em excesso, coincidiu com a epidemia de gripe.

Além de terem identificado excessos de mortalidade nos grupos etários acima dos 65 anos, com maior magnitude a partir dos 85 anos, como seria de esperar, contabilizaram um excesso (nove mortes acima do esperado) na faixa entre os 15 e os 24 anos na primeira semana de Agosto, que especulam dever-se provavelmente a "causas acidentais". Os excessos de mortalidade nos grupos mais jovens “são raros estando, maioritariamente, associados a causas externas de mortalidade”, mas, como são ainda desconhecidas as causas de morte, esta hipótese terá que ser confirmada posteriormente, frisam.

Foram identificados períodos de excesso de mortalidade em todas as regiões do país, mas com magnitude e extensão diferentes. A região Norte foi aquele em que foram identificadas mais semanas de excesso de mortalidade (em 18 das 52 semanas). As regiões do Alentejo, do Algarve e os Açores foram as menos afectadas.

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