Marcelo diz que ataque a Centro Ismailita foi “acto isolado” e recusa “generalizações”

Costa expressou solidariedade às famílias das vítimas e à comunidade Ismaili e disse que não se sabe ainda natureza do “acto criminoso”.

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Marcelo Rebelo de Sousa diz que "as primeiras indicações apontam para um acto isolado" EPA/Bienvenido Velasco

O Presidente da República já apresentou "sinceros pêsames" ao representante do Centro Ismailita, Nazim Ahmad, pelo ataque desta manhã, pedindo-lhe que os transmita ao "Príncipe Aga Kahn e às famílias das vítimas". Ao final desta tarde, depois de visitar o local, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que as investigações apontam para “acto isolado com motivações pessoais” e condenou quaisquer "generalizações" que se possam fazer às comunidades das vítimas ou do agressor. Também o primeiro-ministro lamentou as duas vítimas mortais, enaltecendo a intervenção da PSP.

Em comunicado divulgado à hora de almoço, Marcelo Rebelo de Sousa classificou o ataque como um "acto criminoso" e garantiu que "tem acompanhado permanentemente a situação, em contacto com o Governo". O chefe de Estado sinalizou ainda que estão "a decorrer as investigações destinadas a apurar o sucedido" e que "as primeiras indicações apontam para um acto isolado".

Também António Costa considerou o ataque um "acto criminoso", cuja natureza ainda não é conhecida, e enalteceu a "pronta intervenção" da PSP, desejando que o suspeito possa recuperar para ser levado à Justiça.

À chegada a Tomar, para participar no encerramento das jornadas do PS, António Costa não quis usar as palavras 'atentado' ou 'terrorismo', e disse ser "prematuro" fazer qualquer interpretação sobre as motivações deste "acto criminoso", nomeadamente se o suspeito agiu sozinho ou se está integrado em alguma organização.

"Vamos aguardar com segurança que as autoridades procedam às necessárias investigações, mas queria aqui expressar a minha solidariedade a toda a comunidade ismailita, em particular às famílias das vítimas."

Questionado sobre se já há alguma informação acerca das motivações do ataque o primeiro-ministro reiterou que é ainda "prematuro" qualquer conclusão, embora já tenha falado com o líder da comunidade, Nazim Ahmad, que lhe deu uma explicação. "Mas cabe agora às autoridades, naturalmente, fazer agora uma investigação a caracterização e qualquer que seja a motivação."

O suspeito, que foi baleado, "está neste momento a receber cuidados médicos no Hospital de Santa Maria" disse Costa, desejando que "os cuidados médicos possam assegurar a recuperação do suspeito para que seja devidamente submetido à justiça".

Ao final da tarde e após ter falado com familiares das vítimas no centro Ismailita, o Presidente da República referiu-se a "motivações pessoais" do atacante, que estava a ser "apoiado" pela instituição, apesar de considerar que "nada justifica" o que aconteceu. Marcelo fez questão de afastar responsabilidades colectivas. "É injusto estar a generalizar. Não podemos generalizar sobre a comunidade afegã ou outra", afirmou. Questionado sobre se receia um debate em torno da política de imigração, o Presidente respondeu negativamente. "É uma coisa tão específica. Neste caso tudo parece indicar que não há conclusões genéricas que se possa tirar. Não vale a pena generalizar porque é injusto e é precipitado", afirmou aos jornalistas, defendendo que a comunidade ismailita deve prosseguir com o seu trabalho social.

Já o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, mostrou-se “profundamente consternado com o ataque vil”. Através do Twitter, a segunda figura do Estado manifestou “total solidariedade com as famílias das duas vítimas mortais” e deixou “uma palavra de conforto a toda a comunidade ismailita”.

Também a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que tem a pasta das migrações, reagiu imediatamente, afirmando que “foi com choque” que tomou conhecimento do ataque. Numa publicação nas redes sociais, a governante exprimiu “toda” a “solidariedade com as famílias das vítimas” e a comunidade ismailita, elogiando “a pronta actuação das forças de segurança”.

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, manifestou, em representação do “sentimento comum” dos lisboetas e a “título pessoal”, “profunda tristeza”, denominando o ataque como um “crime hediondo”. Numa nota de pesar, transmitiu “sentimentos às famílias e a esta nossa comunidade tão importante para a cidade”.

Ministro da Administração Interna diz que atacante não estava sinalizado

Quanto ao ministro da Administração Interna prestou uma palavra de "reconhecimento e gratidão à PSP", cuja actuação diz ter demonstrado os "níveis elevados" de "operacionalidade das forças de segurança". José Luís Carneiro reiterou que "tudo leva a crer tratar-se de um acto isolado" e garantiu que se desenvolverão "todas as investigações em articulação com o Ministério Público para "determinar as causas, as motivações e os termos em que se desencadeou o acto", que condenou.

O governante confirmou que o atacante é "um homem relativamente jovem com três filhos menores" de quatro, sete e nove anos, cuja mulher faleceu num campo de refugiados na Grécia, que terá sido recolocado em Portugal ao abrigo da cooperação europeia e beneficiava do estatuto de protecção internacional.

José Luís Carneiro assegurou ainda que não existia qualquer indício de que o ataque pudesse acontecer e que o atacante "não tinha qualquer sinalização que justificasse medidas de segurança" por ter "uma vida bastante tranquila", ser de "fácil relação" e ter o "apoio da comunidade ismailita" ao nível das "do conhecimento das línguas, do cuidado alimentar e com as crianças". Não havia "qualquer perspectiva de que isto pudesse acontecer", declarou.

O governante pediu também que se "evitassem análises precipitadas", pedindo "grande serenidade e discernimento" sobre este caso. E salientou que Portugal está "aberto e compreensivo ao mundo", numa mensagem à comunidade ismailita.

Partidos condenam o ataque e mostram solidariedade

Luís Montenegro, presidente do PSD, por sua vez, considerou o ataque "um crime hediondo que a justiça deve punir exemplarmente". Manifestou "solidariedade e pesar às famílias" e ao centro, deixando também um "cumprimento" à PSP "pela rápida e eficaz intervenção".

Pelo Chega, André Ventura culpou a "política de portas abertas sem qualquer controlo", atribuindo a responsabilidade da morte das vítimas ao "governo de António Costa", numa publicação no Twitter. Uma declaração condenada pelo líder do CDS, Nuno Melo, por ter sido feita "sem os factos apurados" e que "se limita a exacerbar ódios e a potenciar mais violência".

O Chega apresentou ainda um requerimento para ouvir o ministro da Administração Interna em audição no Parlamento, no qual foi mais comedido nas palavras, classificando o ataque de um "incidente".

O partido exige saber se se tratou de um acto terrorista, assim como "as motivações" e "o contexto" do ataque. E quer apurar o "que os responsáveis pela segurança não estão a fazer bem" ao permitirem que "um cidadão estrangeiro em situação precária em território nacional se movimente com à vontade pela cidade de Lisboa munido de uma arma letal".

O líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, que prestou "condolências" aos "familiares e amigos das vítimas", nas redes sociais, também falou em "profunda tristeza" relativamente ao "acto chocante" desta manhã, que, declarou, "merece uma profunda condenação".

Pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins sinalizou que os bloquistas estão “perplexos com a notícia” e condenou “veementemente o duplo assassinato” a um centro “que desenvolve um trabalho imprescindível no acolhimento a refugiados”. A coordenadora do partido enviou ainda “sentidas condolências à família das vítimas e a toda a comunidade ismailita”, no Twitter.

O secretário-geral do PCP condenou igualmente o ataque, esperando uma investigação rápida. "É um acto naturalmente que condenamos. A questão fundamental é as condolências à família, e tudo aquilo que seja necessário agora investigar e resolver, que se resolva rapidamente", afirmou Paulo Raimundo.

Rui Tavares, do Livre, realçou igualmente o "trabalho ímpar humanitário, social e filantrópico" do Centro Ismaili de Lisboa, mostrando-se de “alma e coração com a comunidade ismailita portuguesa” e solidário “para o que for necessário no apoio às vítimas”.

A deputada única do PAN salientou que é "fundamental deixar que a investigação corra o seu rumo", mas repudiou a "intolerância" do "acto criminoso", pedindo "respeito pelo próximo independentemente das diferenças" religiosas, culturais ou sociais. Numa mensagem de vídeo, expressou também "solidariedade e pesar" pelas vítimas e a comunidade ismailita.

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