Abertura da lagoa de Santo André ao mar deverá ser tentada novamente em Maio
Agência Portuguesa do Ambiente admite que duas primeiras intervenções não correram como previsto, mas diz que renovação da água “foi completa”. Apesar disso, vai repetir operação.
Depois de duas tentativas que não terão corrido como o previsto, deverá ser tentada nova abertura ao mar da lagoa de Santo André no início de Maio. A informação foi dada ao PÚBLICO pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), esta quarta-feira, na sequência de questões feitas na semana passada, e a propósito do descontentamento manifestado por pescadores e residentes locais com o que consideram ter sido uma má condução dos trabalhos. A operação, que se realiza todos os anos em Março, há mais de dois séculos, visa garantir a renovação da água da lagoa e assim regenerar o ecossistema.
Será assim a terceira tentativa de abrir o cordão dunar que se interpõe entre o espelho de água doce e o mar, após as intervenções realizadas nos dias 7 e 11 de Março. Dessas operações tuteladas pela APA resultou um grande sentimento de insatisfação por parte dos membros da comunidade local, que acusam a agência governamental de deficiente execução dos trabalhos. O que teria como consequência a não renovação da água, pondo assim em risco a reprodução da enguia, espécie essencial à economia local, e aumentando a possibilidade de pragas de mosquitos. Uma preocupação partilhada pelo presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.
Entendimento diferente tem a APA, que, em resposta escrita enviada ao PÚBLICO, garante que, “apesar do curto período de contacto com o mar, a renovação da água deste corpo lagunar foi completa”. E, por isso, não tem dúvidas de que “este objectivo foi alcançado”. Ainda assim, admite que os trabalhos não decorreram como previra, pelo que “a operação de rompimento da barra arenosa que separa a lagoa de Santo André do oceano vai ser equacionada no início do próximo mês de Maio”. Uma ocasião que, observa, será mais favorável, tendo em conta o calendário de nidificação da avifauna e a ocorrência de marés mais amplas, à semelhança do que sucede por ocasião do equinócio da Primavera.
Explicando o que se passou nas duas tentativas realizadas no início deste mês, a entidade pública diz ter feito tudo o que era suposto. “Esta intervenção foi planeada, como habitualmente, atendendo aos objectivos de conservação ligados à lagoa, nomeadamente a manutenção da qualidade da água em condições adequadas, de forma a evitar problemas de eutrofização durante o próximo verão e a beneficiação de ecossistemas aquáticos, em especial os que servem a avifauna”, esclarece.
Tendo essas preocupações presentes, refere a informação escrita da APA, “foi escolhida, com antecipação, a data com marés consideradas mais adequadas à eficácia da operação (a realizar em período diurno, por razões de segurança)”. A autoridade nacional em questões ambientais faz notar que essa escolha seguiu “a orientação e indicações” do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a quem cabe dar parecer sobre este género de intervenções. “Se a operação for executada em datas mais tardias, a nidificação resultará prejudicada, com forte probabilidade de abandono dos ninhos e consequências óbvias para a população de aves”.
Em teoria, estavam reunidas as condições ideias. Mas as coisas não correram como calculado. “Existindo diversos factores ambientais que influenciam a referida operação, cujo efeito não é possível prever nem contrariar, apesar das amplitudes de marés terem sido favoráveis para o dia escolhido para a primeira tentativa de abertura da barra (7 de Março), o baixo nível da água na lagoa, as condições de mar alterado, com muito forte ondulação e vento forte do quadrante oeste, contribuíram de forma decisiva para a rápida colmatação do canal que ligava o corpo lagunar ao mar”, explica-se.
Lembrando que o período em que é possível realizar este tipo de procedimento é curto, a comunicação escrita enviada pela APA ao PÚBLICO refere que “nem sempre é possível responder a todos os interesses em presença, priorizando-se sempre os principais, que são a qualidade da água e os ecossistemas”. Ainda assim, foi ensaiada nova operação do cordão dunar, a 11 de Março, e, “apesar das condições de mar terem melhorado ligeiramente, infelizmente o resultado foi semelhante”, admite. Mesmo com tal constatação, e o reconhecimento “do curto período de contacto com o mar”, a agência diz que “a renovação da água deste corpo lagunar foi completa, pelo que a APA considera que este objectivo foi alcançado”.