A CUF e o resto. O Barreiro mostra os seus tesouros e as suas memórias em Alcântara

Da fábrica de 1907, que foi a maior da Península Ibérica, às histórias dos portos e documentos de Pacheco Pereira, há muito para ver, até esta sexta-feira, na exposição de cinco arquivos.

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Entre os vários tesouros estão os sapatos de um antigo membro da histórica organização terrorista LUAR
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O primeiro escafandro do Porto de Lisboa

Entre as inúmeras coisas que viajam do Barreiro para Lisboa, como a madeira da Mata da Machada na forma de naus no tempo de Vasco da Gama ou os milhares de barreirenses que diariamente trabalham em Lisboa, chegaram também, agora, as memórias que fisicamente guardamos de tudo isso.

“Os Tesouros dos Arquivos do Barreiro… em Lisboa” estão em exposição na Gare Marítima de Alcântara desde o início do mês até à próxima sexta-feira, dia 31, para mostrar o melhor de cinco arquivos sediados no parque empresarial da Baía do Tejo.

O arquivo da Fundação Amélia de Mello, herdeira do espólio da Companhia União Fabril (CUF) de Alfredo da Silva, os dos Portos de Lisboa Setúbal e Sesimbra, o da Ephemera, de Pacheco Pereira, o arquivo municipal Espaço Memória, o Centro de Documentação do Museu Industrial da Baía do Tejo, e o Colectivo SPA, um grupo de artistas que instalados e a trabalhar no Barreiro, em pintura e escultura, são os cinco arquivos presentes na mostra.

Entre os vários tesouros estão, por exemplo, os sapatos de um antigo membro da histórica organização terrorista LUAR, equipados com uma mini-serra oculta na sola, para serrar grades de prisão em caso de captura, ou o Joel, o primeiro escafandro do Porto de Lisboa, dos anos 40, operado por dois irmãos açorianos, que deram o nome ao aparelho, nas arriscadas missões nos naufrágios e acidentes no fundo do rio Tejo.

A aposta que a empresa pública e o município fizeram, vai para uma década, no acolhimento de arquivos, espólio cultural e artistas no activo, aproveitando o Centro de Documentação do Museu Industrial e o Espaço Memória, do município, que já estavam no parque empresarial, deu já ao Barreiro o “selo” de “Cidade dos Arquivos” e permitiu o desenvolvimento de um cluster da cultura e do conhecimento que reúne duas dezenas de referências.

O Barreiro, “talvez a única verdadeira cidade industrial do país”, cujas características e identidade foram moldadas pelo complexo industrial da CUF, cuja fundação, em 1907, esteve na génese do desenvolvimento da região.

“A importância de fazer esta exposição aqui em Lisboa é capital para nós. Estamos a 20 minutos do Terreiro do Paço, trazemos um bocadinho da nossa história e das entidades que nos acompanham e que ajudam a contar a história do país”, diz Rui Braga, vice-presidente da Câmara Municipal do Barreiro.

Sara Ferreira, também vereadora da autarquia, acrescenta que a ideia de trazer a exposição à capital surgiu após a primeira mostra, em 2022. “A exposição já esteve no Barreiro no ano passado, no Dia dos Arquivos, a 9 de Junho, e achámos que seria engraçado trazê-la a Lisboa. É uma grande forma de mostrarmos o que temos do outro lado do rio a todas as pessoas que vivem e que queiram ver esta exposição aqui em Lisboa”, afirma a autarca.

Para José Pacheco Pereira, da Ephemera, a exposição, patente até ao final da semana em Alcântara, tem dois aspectos inéditos: “Ser uma mostra conjunta de cinco arquivos do Barreiro, que não é muito comum, cinco arquivos de uma municipalidade colaborarem entre si, e o conteúdo, esta mostra é fundamental para a história social, económica, empresarial, industrial e política de Portugal”.

“O Barreiro é aqui ao lado mas a importância do que lá tem em muitas áreas específicas é maior do que muitos arquivos em Lisboa, principalmente naquilo que moldou a cidade do Barreiro que foi a actividade industrial e a CUF. Isso criou um ecossistema operário e industrial, durante grande parte do século XX, de resistência politica que é único em Portugal.”, destaca ainda Pacheco Pereira.

Às quintas-feiras, às 17h00, há visitas guiadas e esta semana ainda vai a tempo de aproveitar. Nos outros dias a visita é sem guia.

A exposição na Gare Marítima de Alcântara encerra com um sunset archiv party, com o DJ Charlie Guerreiro, dia 31 às 17h30. Tanto a exposição como a festa são de entrada livre.

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