Ministro da Defesa de Israel vê na reforma judicial “um perigo para a segurança do Estado”

Centenas de milhares de pessoas voltaram a sair à rua contra planos de Netanyahu. Aliado do primeiro-ministro pede a demissão de Yoav Gallant, o primeiro membro do Governo a criticar a lei.

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Só em Telavive houve mais de 200 mil pessoas a manifestarem-se no sábado à noite ABIR SULTAN/EPA

Benjamin Netanyahu estará a preparar-se para despedir o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, depois de este ter apelado aos seus colegas do Likud e dos outros partidos na coligação governamental para travarem a reforma judicial que está prestes a ser votada no Parlamento e que motiva protestos massivos há dois meses. Segundo notícias de media de língua hebraica, citadas pelo jornal The Times of Israel, o primeiro-ministro israelita está a ponderar se deve afastar o antigo general ou ameaçá-lo com a expulsão do Governo se ele não votar a favor do projecto-lei.

À mesma hora em que centenas de milhares de israelitas protestavam contra os planos do Governo, Gallant sublinhava como a profunda divisão do país em relação à polémica reforma, que os críticos descrevem como um golpe, afectou as Forças Armadas. “Isso representa uma ameaça clara, imediata e tangível à segurança do Estado”, defendeu. “Não vou participar nisto”, afirmou, numa intervenção transmitida no sábado em horário nobre.

“Nunca antes se tinha visto a dimensão destes sentimentos de raiva, desilusão e medo”, descreveu, numa altura em que há cada vez mais reservistas e alguns militares no activo que ameaçam recusar determinadas missões ou garantir apenas os serviços mínimos se a reforma for aprovada na sua versão actual.

Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional e líder do Sionismo Religioso, partido de extrema-direita que foi o terceiro mais votado nas eleições de Novembro, exigiu a demissão do ministro. “Gallant cedeu com chantagens e ameaças a todos os anarquistas que utilizam as Forças Armadas como ferramenta de negociação. Foi eleito com os votos da direita e, na prática, promove uma agenda das esquerdas”, afirmou Ben-Gvir numa mensagem publicada no seu canal do Telegram.

Apanhado pelas declarações do ministro quando estava em Londres, o primeiro-ministro já regressou e marcou para este domingo à tarde uma reunião com os líderes dos diferentes partidos da coligação no poder.

Criticado por vários membros do Governo e do Likud, de Netanyahu, Gallant também viu os seus avisos serem apoiados por pelo menos dois outros membros do partido: os deputados Yuli Edelstein e David Bitan (que já defendera uma pausa para “acalmar o país") também pediram um travão que permita debater com a oposição e chegar a uma reforma mais consensual.

Os media israelitas dizem que o ministro da Agricultura, Avi Dichter, pediu igualmente uma suspensão da votação, mas ter-se-á arrependido e divulgou um comunicado a garantir o seu apoio e a prometer que votará a favor da reforma. Alguns jornais escrevem que Dichter pode ser uma alternativa a Gallant para a pasta da Defesa.

Na última quinta-feira, o Parlamento ratificou o que o diário Haaretz chamou “a primeira lei do golpe judicial”, que limita as situações em que um chefe do Governo pode ser declarado inapto, isto quando Netanyahu teme que a procuradora-geral, Gali Baharav-Miara, possa declará-lo inapto por causa do processo por corrupção.

Outras partes fundamentais da reforma judicial – que diminuiu o poder do Supremo Tribunal para reverter leis que considere inconstitucionais (em violação do conjunto de leis básicas que funciona como a Constituição que o país não tem) e aumenta o controlo da maioria governamental na nomeação de juízes – podem ser votadas já esta semana.

Protestos junto a casas de ministros

Os líderes da coligação querem aprovar um conjunto de emendas antes da interrupção dos trabalhos do Knesset (Parlamento) para as celebrações da Páscoa, escreve o diário Haaretz. O Comité da Constituição, Lei e Justiça estará reunido este domingo e o seu presidente, Simcha Rothman, do Sionismo Religioso, quer terminar de debater as últimas (milhares) de reservas colocadas pela oposição à lei.

Na rua, os protestos não deverão abrandar. No sábado, a oposição convocou uma semana de greves e os líderes dos protestos consideraram que esta é “a semana mais decisiva da História de Israel” face a um Governo que “está a partir a nação em dois e a desmantelar o Exército e a economia”.

No arranque da semana, reservistas protestaram este domingo de manhã perto da casa de Ben-Gvir, em Kiryat Arba, e bloquearam a estrada deste colonato nos arredores de Hebron. Houve ainda protestos diante das casas de Dichter, do ministro do Turismo, Haim Katz, e do deputado do Likud Danny Danon, Para a noite estavam planeadas manifestações junto às casas dos deputados Yuli Edelstein e Shalom Danino, do ministro da Economia, Nir Barkat, e da ministra dos Serviços Secretos Gila Gamliel, todos do Likud (e todos membros do Knesset).

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