Centenas de manifestantes detidos e de polícias feridos em nova noite de protestos em França
Uma manifestante que terá sido atingida pela polícia perdeu um polegar, na cidade de Rouen. “A responsabilidade desta situação explosiva é do Governo”, diz a sindicalista Maylise Leon.
O fogo foi rapidamente apagado, mas a porta principal da Câmara de Bordéus a arder já se tinha tornado uma das imagens dos protestos contra a reforma das pensões em França. Uma semana depois da aprovação da reforma, por decreto, as manifestações de quinta-feira, que juntaram 3,5 milhões de pessoas, segundo os sindicatos, e mais de um milhão, de acordo com a polícia, entraram pela noite e estiveram na origem de cenas de violência em várias cidades: segundo anunciou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, esta sexta-feira de manhã, 457 pessoas foram detidas e 441 polícias ficaram feridos.
Para além da porta da Câmara Municipal de Bordéus (Sudoeste) incendiada, em Lorient (Oeste) foi atacada uma esquadra e o presidente da Câmara de Rennes (Oeste) denunciou “cenas de caos". Em Paris, depois de uma marcha quase sempre pacífica, houve confrontos entre polícias e alguns grupos descritos como “anarquistas”, com montras partidas, um McDonald’s atacado e um polícia a perder os sentidos.
“Há bandidos, muitas vezes da extrema-esquerda, que querem derrubar o Estado e matar polícias”, afirmou Darmanin, depois de visitar a sede da polícia da capital, durante a noite.
Tal como em Paris, a polícia usou ainda gás lacrimogéneo em Nantes (Oeste), Lorient e Lille (Norte), tendo recorrido a canhões de água em Rennes (Noroeste) e Toulouse (Sudoeste). Em Rouen, no Noroeste, uma jovem manifestante perdeu o polegar: testemunhas ouvidas pelas agências de notícias dizem que foi atingida por disparos de uma “flash-ball”, arma usada pelas forças de segurança francesas que habitualmente lança balas de borracha de 44 milímetros.
Para além dos protestos, houve greves nas refinarias e atracções turísticas como a Torre Eiffel e o Palácio de Versalhes estiveram encerradas. Os polícias e os funcionários do aeroporto Charles de Gaulle, de Paris, também abandonaram o trabalho. Os sindicatos anunciaram uma nova jornada de protestos para a próxima terça-feira, o que coincide com o início da visita do rei Carlos III, que deverá visitar Bordéus e jantar em Versalhes.
“A rua tem legitimidade em França”, disse um manifestante citado pela BBC em Nantes. “Se [o Presidente Emmanuel] Macron não se lembra desta realidade histórica, não sei o que está a fazer aqui”, acrescentou. Depois de um longo silêncio sobre o tema, na quarta-feira, Macron voltou a defender a lei que aumenta a idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos, insistindo que entrará em vigor no final do ano e comparando estes protestos com o ataque contra o Capitólio, em Washington, a 6 de Janeiro de 2021.
Alguns responsáveis sindicais dizem temer que sem respostas concretas do Governo os protestos possam tornar-se mais violentos. “Isto é uma resposta às falsidades o Presidente e à sua teimosia incompreensível”, afirmou Maylise Leon, vice-secretária-geral da Confederação Francesa do Trabalho Democrático. “A responsabilidade desta situação explosiva não é dos sindicatos, mas do Governo.”