Scholz: “Deutsche Bank dá lucro, não há motivo de preocupação”
Confrontados com a queda do Deutsche Bank na bolsa, os líderes no Conselho Europeu mantiveram a mensagem de tranquilidade. Olaf Scholz assegurou que o maior banco da Alemanha é muito rentável.
Com o valor do Deutsche Bank a afundar-se até aos 15% na negociação da Bolsa de Frankfurt, o nervosismo com a perspectiva de uma nova crise bancária na Europa era indisfarçável esta sexta-feira, em Bruxelas. E o cancelamento da habitual conferência de imprensa no final da reunião do Conselho Europeu só contribuiu para alimentar os receios de que o cenário seja bem mais frágil do que o retrato de estabilidade e robustez que os líderes da União Europeia apregoam.
Numa frase curta, o chanceler alemão, Olaf Scholz, procurou pôr fim a todas as especulações — incluindo sobre a saúde financeira do maior banco da Alemanha. “O sistema financeiro e a supervisão bancária europeia são robustos e estáveis”, sublinhou, acrescentando que “o Deutsche Bank modernizou-se, reorganizou fundamentalmente o seu modelo de negócio e dá lucro”. “Não há motivo de preocupação”, vincou.
Em vez da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ou da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, foi o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, que apareceu no final da cimeira a dizer que não há razões para alarme. “O Conselho Europeu foi muito claro nas suas conclusões: acreditamos que os nossos bancos são resilientes, são fortes, e que as decisões que tomámos relativamente às exigências de liquidez e de capital que os nossos bancos detêm garantem que eles continuarão a ser resilientes no futuro”, disse, sem responder a quaisquer perguntas sobre os desenvolvimentos do dia nos mercados de capitais. “Não seria apropriado, porque as condições estão sempre a mudar”, disse Donohoe, voltando a dizer que, apesar da turbulência, “os bancos europeus estão fortes e são estáveis”.
A mesma mensagem de tranquilidade e confiança na capacidade de resiliência do sistema financeiro europeu no rescaldo do colapso do Silicon Valley Bank dos Estados Unidos, e do helvético Credit Suisse, foi repetida de viva voz por vários dos chefes de Estado e governo que se pronunciaram no final da reunião do Conselho Europeu, entre os quais António Costa.
“Registámos com agrado a mensagem de grande confiança que a senhora Lagarde transmitiu quanto à solidez do sistema financeiro europeu, explicando detalhadamente as diferenças entre o sistema regulatório europeu e o sistema regulatório norte-americano ou mesmo suíço, e as razões pelas quais podemos ter confiança na estabilidade do sistema financeiro”, disse o primeiro-ministro.
“Aprendemos as lições do passado e todos vimos, esta semana, que a zona euro é muito estável”, referiu o seu homólogo belga, Alexandre De Croo. “De modo geral, penso que estamos em boa forma”, confirmou o chefe do Governo dos Países Baixos, Mark Rutte, que recordou as críticas da “comunidade empresarial e bancária” ao reforço regulatório depois da crise financeira de 2011, para constatar: “Agora podemos ver como foi importante termos tomado essas medidas para dispor destes amortecedores.”
Ainda assim, no final do Conselho Europeu, António Costa repetiu o aviso — que começa a assumir um tom cada vez mais sério — sobre a necessidade de completar a união bancária com o estabelecimento de um seguro de depósito comum a nível europeu, capaz de garantir a protecção de todos os clientes da banca em caso de crise, independentemente da capacidade de cada Estado-membro para proteger as suas instituições financeiras.
“Tive oportunidade de assinalar que devíamos acelerar a conclusão da união bancária, em particular com o sistema de garantia de depósitos”, disse o primeiro-ministro. Para o chefe do executivo, “isso seria fundamental para reforçar a capacidade de investimento das empresas e nas empresas, de modo a que elas possam acelerar o seu processo de modernização e de participação na dupla transição digital e energética”.
António Costa gostou de ouvir Christine Lagarde assegurar que o BCE está preparado para utilizar todas as “ferramentas” de que dispõe para fornecer liquidez ao sistema financeiro da área do euro, se tal for necessário.
Já em relação às medidas do Banco Central Europeu para o controlo da inflação, com sucessivas subidas das taxas de juro, manifestou um certo cepticismo. “É muito claro que as causas desta inflação são muito distintas das causas habituais”, salientou, creditando mais a política orçamental dos governos e menos a política monetária do BCE pela contenção dos preços.
“Se a inflação tem estado a ser controlada, deve-se em primeiro lugar às medidas que os governos têm adoptado para controlar a evolução do preço da energia, e em segundo lugar as medidas que têm sido adoptadas para apoiar o aumento dos custos de produção, designadamente no sector agrícola”, disse Costa, acrescentando que até agora “contribuições significativas da subida de taxas de juro para controlar a inflação não se verificaram e é improvável que se verifiquem”.