Universitários saíram à rua para protestar contra “muros” que os impedem de estudar

Manifestações em várias cidades, convocadas por algumas associações académicas, marcam véspera do Dia Nacional do Estudante. Em Lisboa, os estudantes foram recebidos pelo gabinete de António Costa.

#MVR Matilde Fieschi -manifestacao de estudantes universitarios, de faculdade de belas artes ate belem - 23 de Março de 2023
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Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI
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Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI
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Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI
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Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI

Centenas de estudantes de várias faculdades de Lisboa saíram esta quinta-feira à rua para pedir ao Governo o fim das propinas, mais alojamento estudantil público e a preços acessíveis, cantinas para os universitários e maior financiamento público no ensino superior.

Sob o lema “Fim às barreiras no ensino superior!” a acção estudantil, que partiu pelas três da tarde da Faculdade das Belas-Artes, no Chiado, culminou com a visita dos promotores da manifestação ao palacete de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro. Ainda que António Costa se encontre em Bruxelas para participar no Conselho Europeu, os universitários foram recebidos pelo gabinete de assessoria do chefe do executivo.

À saída, após uma hora de reunião, a presidente da Associação de Estudantes de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Mafalda Borges, sublinhou a importância de “combater as barreiras no ensino superior”.

Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI
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Manifestação de estudantes em Lisboa MATILDE FIESCHI

Quanto a um encontro formal com António Costa, a dirigente académica revelou que “foram feitas promessas de uma reunião”, algo que os estudantes estão “fartos" de ouvir, "pelo que a luta na rua continua”, acrescentou. Ainda assim, a estudante não considera que o esforço foi em vão: “Enquanto houver um estudante que não consegue estar no ensino superior por dificuldades socioeconómicas, vale sempre a pena lutar.”

Em declarações ao PÚBLICO, Mafalda Borges considera que o “muro que se ergue perante os universitários” tem como “principais tijolos a falta da habitação a preços dignos” e bolsas incapazes de cumprirem com o propósito original, uma vez que “apenas cobrem o custo das propinas, ao invés de nivelarem o custo de vida dos jovens”, acrescenta a dirigente académica.

MATILDE FIESCHI
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Por isso, e apontando ao regime fundacional, Mafalda Borges reitera a exigência da gratuidade do ensino superior: “Os fundamentos das propinas, de melhor ensino e condições, não se verificam, pelo que devemos acabar com esta barreira socioeconómica.”

"Partilho casa de banho com 30 estudantes"

Vasco Marrocano estuda há apenas alguns meses em Lisboa. Vindo da Covilhã, o aluno do primeiro ano da licenciatura de Pintura, na Faculdade das Belas Artes, de onde partiu a manifestação, confessou ao PÚBLICO o stress para encarar “a nova vida”, mesmo tendo conseguido lugar numa residência pública. “Partilho edifício com 90 pessoas e casa de banho com outros 30 estudantes”, ilustra. A bolsa que recebe não cobre todas as despesas que tem ao estudar na capital, nomeadamente a alimentação, o que obriga estudantes como Vasco a trabalhar após as aulas para suplementar os seus orçamentos, privando-os de “momentos de paz, essenciais para recarregar energias e para a saúde mental”.

Junto a uma tarja que exige a melhoria das cantinas sociais e respectivos preços, Marta Boavida, 20 anos, estudante algarvia do 2º ano do curso de Conservação e Restauro da FCT Nova, denuncia o aumento do preço de uma refeição nas cantinas da Universidade Nova de Lisboa, que deverá passar a custar três euros a partir de Outubro.

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Estudantes queixam-se dos preços do alojamento e da alimentação MATILDE FIESCHI

“O Governo e a universidade não pensam na alimentação dos estudantes, que recorrem a alternativas como cafés e pequenos estabelecimentos”, relatou ao PÚBLICO. Outra crítica vai para a falta de representatividade dos estudantes nas tomadas de decisão da sua universidade, a Nova de Lisboa que satiriza ao compará-la a “um shopping”, dado o espaço concedido a empresas privadas nos órgãos consultivos da instituição. “Há dois estudantes em nome de oito mil [universitários] no conselho de decisão, para 4 empresas”, nota Marta Boavida.

Rendas e propinas

Regressada a Lisboa para seguir “a paixão do teatro”, depois de frequentar a licenciatura de Estudos Gerais, em 2016, Joana Resende, de Évora, relata ao PÚBLICO que “os preços de renda duplicaram” e que se sente cada vez mais o peso da inflação nos supermercados.

A estudante alentejana erguia, na tarde desta quinta-feira, um cartaz crítico do palco das Jornadas Mundiais da Juventude e da falta de palco para os alunos de teatro e cinema. “Há um problema com fundos públicos usados com muita pompa, mas não para o que realmente interessa”, diz, sublinhando a falta de condições físicas da sua faculdade.

O PCP e o Bloco de Esquerda (BE) associaram-se ao protesto dos universitários em São Bento. Ao PÚBLICO, a deputada Alma Rivera (PCP) disse que “uma maioria PS ou PSD converge em assuntos fundamentais, naquilo que são as políticas elitistas e que deixam as pessoas para trás”. A parlamentar comunista lembrou ainda que “um ano de propinas representa três milhões de euros”, quando o “Governo apoia o sector energético em três mil milhões de euros”.

Por sua vez, a deputada Joana Mortágua (BE) garantiu que a gratuitidade no ensino superior, “uma luta apagada há alguns anos”, apenas será possível quando “a propina deixar de ser uma barreira de acesso à universidade, e quando o sistema de financiamento desigual for abandonado”. Ao PÚBLICO, a deputada bloquista lembrou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já criticou a propina como um entrave no acesso ao ensino superior.

Pedidos dos estudantes universitários ecoaram pelo país

A manifestação desta quinta-feira decorreu na véspera do Dia Nacional do Estudante, que se assinala esta sexta-feira. No Porto, os estudantes reuniram-se de tarde em frente à reitoria da Universidade do Porto, na Praça de Gomes Teixeira. Também para esta quinta-feira foram convocados protestos de estudantes em Castelo Branco, Aveiro, Braga, Algarve, Évora, Covilhã e Coimbra.

O protesto de estudantes em frente à Reitoria da Universidade do Porto Paulo Pimenta
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O protesto de estudantes em frente à Reitoria da Universidade do Porto Paulo Pimenta

Apesar de o movimento incluir a cidade dos estudantes, o Presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Pedro Caseiro, contactado pelo PÚBLICO, esclareceu que o protesto estudantil ali ocorrido foi organizada por entidades alheias à AAC, e até contra “a decisão tomada em Assembleia Magna”. Esta sexta-feira, a academia coimbrã vai promover a elevação do ex-presidente, Cesário Silva, falecido em Março de 2022, a membro honorário da AAC, por ocasião do Dia do Estudante.

Ainda assim, a presidente da Associação Académica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, Mafalda Borges, defendeu que o objectivo da manifestação passou por assinalar o contexto quotidiano das diferentes comunidades estudantis universitárias em Portugal.

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