Pedro Soares dos Santos: “Declarações do ministro da Economia foram muito infelizes”
O presidente da Jerónimo Martins admitiu que a inflação “ajudou” no desempenho de 2022, mas diz ser “um mero imposto”. “Negócio não vive das margens brutas”, defendeu a CFO.
O presidente do grupo Jerónimo Martins (JM), Pedro Soares dos Santos, disse nesta quinta-feira, que as afirmações do ministro da Economia, Costa Silva, no início deste mês sobre as margens do sector da distribuição "foram muito infelizes".
"Lamento profundamente as afirmações do ministro da Economia", disse na conferência de imprensa sobre os resultados o líder (CEO) do grupo dono do Pingo Doce, que não poupou nas palavras, acusando a tutela da Economia de, no evento de 9 de Março, "utilizar a ASAE para um espectáculo".
Nesse dia, António Costa Silva e Pedro Portugal Gaspar, inspector-geral da autoridade para a segurança alimentar e inspecção económica, utilizaram os dados da ASAE para afirmar que alguns produtos tiveram margens médias de lucro brutas de 50%, como a cebola. Perante este cenário, disse então António Costa Silva: “Parece-nos que há algumas práticas abusivas que têm de ser sancionadas.”
“Vamos ser absolutamente inflexíveis, se existirem práticas abusivas", acrescentou, a 9 de Março, o ministro. “Temos em aberto todas as opções e vamos calibrar as nossas medidas à medida que os dados forem surgindo. Sabemos que os operadores, muitas vezes, actuam dentro das regras, mas isto não exclui que haja práticas abusivas.”
"Inflação é um imposto perigosíssimo"
Para o CEO da JM, a "inflação é um imposto perigosíssimo", que "retira competitividade" às companhias e aos consumidores. Na conferência de imprensa sobre os resultados de 2022, Pedro Soares dos Santos não negou que a inflação ajudou nas vendas do grupo em 2022. Mas acrescentou que esta não é a ajuda mais saudável.
Com presença em três mercados, a JM enfrentou uma inflação alimentar de 13% em Portugal, de 15,4% na Polónia e de 25% na Colômbia.
Já Ana Luísa Virgínia, administradora financeira do grupo (CFO, na sigla em inglês), contabilizou a "ajuda". A inflação terá representado 10 pontos percentuais dos 21,5% de crescimento das vendas no ano passado.
A administradora defendeu ainda na conferência de imprensa que "o negócio não vive das margens", até porque, argumentou, "nas margens brutas não estão os custos das nossas pessoas", da logística e dos transportes. Na mesma ocasião, o grupo apresentou dados da margem de lucro líquida anual, que em 2022 foi de 0,7%.
Também presente na conferência de imprensa, a presidente executiva da sociedade Pingo Doce (detida em 51% pela JM e em 49% pelos holandeses da Ahold), Isabel Ferreira Pinto não se esquivou às questões sobre uma eventual descida do IVA alimentar em certos bens, que o Governo está ainda a analisar, segundo disse nesta quarta-feira António Costa.
O Governo "já o devia ter feito há mais de um ano", sublinhou a gestora, mas, se e quando acontecer, o grupo acompanhará: "Vamos repercutir integralmente a descida do IVA", disse a CEO do Pingo Doce, cadeia que terminou 2022 com vendas de 4,49 mil milhões (mais 11,2%) nos 472 super e hipermercados que detém no país.
A Jerónimo Martins SGPS, companhia dona das cadeias Pingo Doce e Recheio em Portugal, obteve lucros de 590 milhões de euros no ano passado, após interesses minoritários. É um crescimento de 27,5%, segundo os dados divulgados nesta quarta-feira ao mercado.
O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, na sigla em inglês) foi de 1419 milhões de euros, um crescimento de 20,8% face a 2021. O grupo liderado por Pedro Soares dos Santos consolidou, no último exercício fiscal, vendas de 25.385 milhões de euros, mais 21,5% do que em 2021.