Planear jogos de futebol é “como fazer preparativos para uma guerra”, critica director nacional da PSP
Magina da Silva alerta para pressão sobre forças de segurança, relembrando que jogo de risco pode mobilizar 900 agentes. Seminário sobre violência no desporto arrancou esta quinta-feira no Porto.
Planear a segurança de um clássico ou dérbi é como fazer “preparativos para a guerra”. Esta quinta-feira, o director nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP), Magina da Silva, abordou o tema da violência no desporto num seminário promovido por esta força policial. O responsável relembrou que, para cada jogo de risco elevado, podem ser destacados até 900 operacionais, dizendo que a polícia evita tragédias “todas as semanas”. Para este efeito, deu o exemplo de um jogo entre FC Porto e Benfica no Estádio do Dragão.
“Temos de acompanhar a massa visitante, que chegam muitas vezes de autocarro – a CP já não aluga comboios porque eles partem tudo. Temos de proteger os viadutos nas auto-estradas, porque os autocarros são apedrejados, temos de fazer segurança às estações de serviço porque senão são vandalizadas. Temos de ter policiamento no hotel da equipa visitante. A chegada dos autocarros tem de ser cronometrada, para não coincidir com a chegada dos adeptos visitantes. Evitamos desastres todos os fins-de-semana. Assemelham-se a preparativos para uma guerra”, detalhou Magina da Silva.
O responsável máximo da PSP não tem dúvidas: discursos provocatórios de dirigentes durante a semana traduzem-se num aumento directo de violência entre os adeptos nos estádios. Para Magina da Silva, existe uma “visão enviesada” da violência no desporto, contaminada por simpatias clubísticas: alguns incidentes e confrontos são amplamente divulgados, outros silenciados, consoante os clubes envolvidos. “Todo e qualquer incidente de violência é condenável”, resumiu, defendendo um afastamento “sem dó nem piedade” dos adeptos prevaricadores.
Antes da intervenção de Magina da Silva, foi a vez de Norberto Martins, procurador-geral regional do Porto. Em representação da procuradora-geral da República, Lucília Gago, Noberto Martins lamentou a pressão colocada semanalmente nas forças de segurança, com particular ênfase para a maneira como as claques são conduzidas, enquadradas em caixas de segurança, “como se se tratasse de um exército invasor”, algo que contrasta com o ambiente de fairplay e convivência saudável que o futebol deveria representar.
Minutos depois, Magina da Silva disse partilhar da visão do procurador regional, mas, dado o risco de violência, esta é única alternativa possível de manter a ordem. “Já tentámos uma abordagem diferente, com consequências catastróficas”, adiantou o director da PSP. Uma realidade de violência que também se começa a propagar para os jogos de camadas jovens e divisões distritais: nestas duas, a PSP registou o dobro dos incidentes, na época 2021-22, face aos dados registados em 2018-19 – última época completa com público nas bancadas antes da pandemia de covid-19.
A PSP realiza, entre quinta e sexta-feira, um seminário intitulado Estado de Sítio, uma reflexão que abrange vários sectores da sociedade sobre o fenómeno da violência no Desporto. Esta é a quarta edição do evento e, pela primeira vez, realiza-se na cidade do Porto. A sessão de encerramento contará com a intervenção do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia.