Directora de Museu Pushkin, que tem familiares contra o Kremlin, deixa o cargo
Marina Loshak estava no Museu Pushkin desde 2013. Filha e sobrinho são “jornalistas da oposição” que deixaram a Rússia após a invasão da Ucrânia.
Marina Loshak anunciou esta terça-feira a sua demissão do Museu Pushkin, instituição estatal russa da qual era directora há dez anos. Nascida na Ucrânia, em 1955, será substituída por Elizaveta Likhacheva, que estava desde 2017 à frente do também estatal Museu de Arquitectura Shchusev, em Moscovo.
A agora ex-directora do Museu Pushkin, que tem 67 anos e trocou a cidade ucraniana de Odessa por Moscovo há quase 40, tem na família dois “jornalistas da oposição”, escreve o jornal mensal Art Newspaper. Tanto a filha como o sobrinho deixaram a Rússia após a invasão da Ucrânia — e ambos foram classificados como “agentes estrangeiros” pelo Ministério da Justiça russo, acrescenta a publicação.
O Washington Post refere que o contrato de Marina Loshak terminava no início de Abril e que, quando anunciou a sua demissão, a responsável disse que já planeava deixar o seu cargo no Museu Pushkin há algum tempo.
“O contrato estava a chegar ao fim e ela assinou a [carta de] demissão por vontade própria”, disse ao jornal norte-americano a crítica russa de arte Maria Moskvicheva. Dito isto, “Marina não é uma figura muito conveniente na actual situação”, acrescentou, dizendo que, devido às ligações familiares de Loshak, “havia pressão por parte de membros do público que apoiam o novo rumo do Estado” russo.
“Fui a directora do Museu Pushkin durante dez anos. A próxima pessoa tem de vir com nova energia, novos pensamentos e novas ambições, para continuar o que outros iniciaram”, disse Marina Loshak esta terça-feira, em comunicado.
Loshak assumiu as rédeas do Museu Pushkin — que possui na sua colecção um importante leque de pinturas, esculturas e peças de arqueologia, por exemplo — em 2013, tendo substituído Irina Antonova (1922-2020), historiadora de arte que passou mais de meio século a liderar esta instituição. O Art Newspaper realça que Marina ganhou destaque por “organizar grandes colaborações com instituições nacionais e internacionais”.
Quanto à nova directora do Museu Pushkin, Elizaveta Likhacheva foi contestada por funcionários do Museu de Arquitectura Shchusev quando foi nomeada directora deste equipamento, há seis anos. Na altura, foi lançada uma petição, alegando que Likhacheva não tinha experiência suficiente para assumir o cargo.
No comunicado em que dá conta da demissão de Marina Loshak, o Ministério da Cultura russo diz que, nos últimos seis anos, o número anual de visitantes do Museu de Arquitectura Shchusev quadruplicou (passou de 27 mil pessoas para 110 mil).
Segundo uma investigação do início desta semana do Agentstvo, um órgão de comunicação russo independente, Elizaveta Likhacheva terá, no início da década de 2000, feito parte de um movimento juvenil pró-Kremlin que organizava acções “contra algumas figuras culturais”. O Agentstvo também faz referência a uma entrevista de 2017 em que Likhacheva diz que trabalhou no Ministério dos Assuntos Internos da Rússia.
A notícia da demissão de Marina Loshak surge um mês depois de Zelfira Tregulova ter deixado a direcção de um equipamento artístico prestigiado internacionalmente, a Galeria Tretyakov. Semanas antes desta sua saída de cena, o Governo de Vladimir Putin, numa carta citada pelo jornal Moscow Times, exigira que Tregulova alterasse as exposições deste museu estatal, por não estarem de acordo com os ideais nacionalistas russos. Não houve mudanças, e a responsável foi afastada. Soube da sua demissão “através dos media”, viria a afirmar. Por seu turno, o Ministério da Cultura russo disse que o seu contrato havia chegado ao fim e que nomeou uma nova directora: Yelena Pronicheva, filha de um antigo líder do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa.