Marcelo criticou políticas de habitação do Governo. Oposição gostou de ouvir
Apesar de algumas nuances, os partidos da oposição concordam com a avaliação negativa feita pelo Presidente da República às medidas com que o executivo quer responder à crise na habitação.
É caso para dizer que “um mata, outro esfola”. Depois de o Presidente da República ter subido um degrau nas críticas ao pacote de medidas do Governo para a habitação, os partidos da oposição, à esquerda e à direita, quiseram deixar claro que concordam com a avaliação feita por Marcelo Rebelo de Sousa.
Se na entrevista ao PÚBLICO de há duas semanas o Presidente deixava claro que, no seu entender, o executivo de António Costa demorou demasiado a avançar com medidas para responder à crise na habitação – “é de louvar que ao fim de sete anos de governo, o Governo tenha apresentado um pacote desta dimensão –, agora Marcelo falou mesmo numa “lei cartaz” que, ao dia de hoje, é “inoperacional”.
"Tal como está concebido, logo à partida, o pacote da habitação é inoperacional. Quer no ponto de partida, quer no ponto de chegada", disse, citado pelo Negócios, o chefe de Estado na Redacção Aberta, uma iniciativa que assinalou o aniversário da CMTV e do Correio da Manhã.
À esquerda, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, reiterou a colagem das medidas do Governo aos partidos da direita, considerando que, nesta matéria, PS e executivo não se diferenciam daquilo que propõem PSD, Chega e Iniciativa Liberal (IL).
As propostas do Governo "passam ao lado" dos "lucros da banca e dos fundos imobiliários" e visam dar-lhes "recursos do Estado". "Não sei se é exactamente essa a crítica do Presidente da República. Essa é a nossa crítica e é aqui que é preciso atacar", atirou o líder comunista.
Já a deputada e candidata à liderança do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, começou por dizer que, com as declarações sobre o programa "Mais Habitação", o chefe de Estado apenas “constatou o óbvio” e disse aquilo que o BE vem defendendo nas últimas semanas.
Caracterizando o pacote de medidas do executivo como “ineficaz e sem aplicação prática”, Mariana Mortágua defendeu depois, à imagem do que fez o PCP, que “na essência” as medidas propostas pelo executivo socialista e pelo PSD são idênticas.
"É preciso fazer uma constatação óbvia. Se excluirmos do debate da habitação medidas que são meramente folclóricas e que não terão qualquer impacto real – como é a medida do arrendamento compulsivo, que já se percebeu que nunca verá a luz do dia – na essência o programa do PS para habitação é igual ao programa do PSD", declarou a deputada bloquista.
Presidente percebeu "finalmente"
À direita, a IL mostrou satisfação por o Presidente ter “finalmente identificado a lei cartaz” depois de “assinar tantas”, considerando que o programa "Mais Habitação" foi desenhado como instrumento de “propaganda”.
"Parece-me que, finalmente, o Presidente da República teve tempo de olhar para o melão, provar o melão e aquilo que viu é que o melão por dentro era tão mau como parecia por fora", disse o deputado liberal Carlos Guimarães Pinto
"Ficamos satisfeitos que o Presidente da República tenha finalmente, após tantos anos, identificado uma lei cartaz depois de ter assinado tantas, esperamos que no futuro as continue a identificar", continuou Guimarães Pinto.
Já o PSD preferiu salientar que as críticas feitas por Marcelo mostram como o Governo está cada vez mais isolado. Pela voz do vice-presidente do PSD António Leitão Amaro, os sociais-democratas defenderam que após a posição adoptada pelo Presidente, agora o que mais importa “é perguntar quem é o responsável pelas críticas que todos os agentes políticos, sociais e responsáveis por instituições fazem”.
“É naturalmente o primeiro-ministro, porque foi ele quem anunciou estas medidas. Ele é o responsável pela crise e pelo desastre causado nestes sete anos”, rematou Leitão Amaro, deixando a garantia de que se o Governo não revir as suas propostas terá o voto contra do PSD. Na semana passada, no Parlamento, o PS viabilizou a passagem à especialidade das propostas do PSD, IL e Livre.
Por seu turno, o Chega optou por uma reacção pouco convencional ao enviar uma carta ao Presidente da República a solicitar que Marcelo “vete o programa do Governo sobre esta matéria depois das críticas severas, certeiras e clarificadoras que fez".
O presidente do Chega, André Ventura, tratou de concluir que com as afirmações que fez sobre o programa, o Presidente "deu a sentença de morte" ao "Mais Habitação". “Este programa de habitação foi folclore, propaganda e artifícios que visavam agradar à esquerda, a uma certa esquerda, sabendo que nunca iria ser aplicado", sustentou Ventura.