Franceses voltam a protestar e oposição tenta travar reforma das pensões
Rejeição das moções de censura ao Governo levou novamente centenas de pessoas às ruas de várias cidades. Partidos exploram via da inconstitucionalidade ou de um referendo.
Ainda a votação das moções de censura ao Governo francês não tinha terminado, na segunda-feira à tarde, e nas ruas de Paris já se concentravam centenas de manifestantes, que depois desfilaram pelas ruas da capital para exigir novamente a retirada da reforma das pensões.
Por toda a cidade houve desfiles mais ou menos espontâneos, compostos sobretudo por jovens a que se juntaram alguns deputados de esquerda, e ao fim da noite registaram-se confrontos com a polícia, o que resultou em pelo menos 234 detenções. Vários bairros de Paris continuam sem recolha de lixo, por isso as ruas amanheceram com sacos e caixotes espalhados e ainda 9000 toneladas de resíduos por apanhar.
Durante a noite houve também protestos em várias cidades francesas, como Lyon, Estrasburgo e Lille, e já nesta terça de manhã vários grupos de manifestantes bloquearam uma auto-estrada, depósitos petrolíferos e uma central nuclear. Em todo o território francês foram detidas 287 pessoas.
A rejeição das moções de censura na Assembleia Nacional, por apenas nove votos, permitiu a adopção efectiva da reforma do sistema de pensões, mas deixou o Governo de Macron mais isolado e mais frágil. Os sindicatos prometem continuar nas ruas a luta contra a lei e a oposição quer explorar todas as hipóteses jurídicas que lhe permitam impedir a entrada em vigor do diploma, que aumenta de 62 para 64 anos a idade legal da reforma.
Entre elas está o recurso ao Conselho Constitucional, que deverá pronunciar-se sobre a constitucionalidade da lei. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, fez saber na segunda-feira à noite que será ela própria a pedir àquele órgão uma avaliação, embora também já haja movimentações nas bancadas parlamentares para reunir o número de assinaturas necessário para o fazer.
Outra hipótese colocada pela oposição, sobretudo à esquerda, é a de um referendo de iniciativa partilhada. Um grupo de deputados e senadores já pediu ao Conselho Constitucional que se pronuncie sobre a possibilidade legal de realizar uma iniciativa deste tipo. Se obtiver luz verde, os promotores têm nove meses para arrecadar pelo menos 4,87 milhões de assinaturas de cidadãos para que a consulta se realize.
Emmanuel Macron, que tem estado maioritariamente em silêncio ao longo de todo este processo legislativo, anunciou para esta quarta-feira uma entrevista televisiva. O Presidente francês passará estes dois dias em reuniões com a primeira-ministra, os presidentes das duas câmaras do Parlamento e com os deputados da sua coligação.