Marcelo renova grupo de reflexão de jovens com quem se reunia ao domingo
Activo desde 2018, o novo grupo passará a integrar elementos mais jovens e terá a primeira reunião em Maio ou Junho. O PÚBLICO falou com dois dos 40 membros que participaram nos encontros.
Ao longo dos últimos quatro anos, o Presidente da República ouviu, de forma regular, um grupo informal de 40 pessoas entre os 30 e os 45 anos. As reuniões não serviam para falar sobre a “espuma dos dias”, nem o grupo representava exclusivamente as elites de Lisboa. A lógica era outra: ouvir a sociedade civil sobre as grandes tendências da globalização numa perspectiva virada para o futuro. Ao fim de 20 encontros, o grupo vai ser totalmente renovado, integrará elementos mais jovens, e terá uma nova coordenação na Presidência da República.
Criado em 2018 a partir da sociedade civil, o Grupo de Reflexão sobre o Futuro de Portugal era formado por pessoas ligadas ao mundo artístico, ao desporto, à indústria do vinho, da cortiça e dos têxteis, à arquitectura, à medicina, preferencialmente sem vínculos partidários, com residência em vários pontos do país e no estrangeiro. Não é remunerado e não tem existência na lei como outros órgãos de consulta do Presidente.
Lara Seixo Rodrigues, 44 anos, curadora e programadora cultural, é um exemplo de representação do interior do país. “O que eu me propus, sendo do interior, cresci na Covilhã, foi levar ao Presidente muito do que se passa – não só ao nível da cultura – fora dos centros. As suas dificuldades e o seu potencial”, afirmou ao PÚBLICO, considerando que o fórum acabou por lhe levar “muita informação que não lhe chegava” de outra forma, “apesar de o Presidente ser muito atento”.
Nas reuniões, que se realizaram no Palácio de Belém e noutros locais em Lisboa, aos domingos, Marcelo ouvia e intervinha no fim dos encontros que podiam durar entre três e cinco horas. “Impressionou-me a disponibilidade do Presidente para nos ouvir”, afirma João Rui Ferreira, 45 anos, presidente da Filcork (associação interprofissional do sector da cortiça), assumindo com satisfação ter visto “algumas ideias a serem adoptadas” no discurso e na agenda do chefe de Estado, nomeadamente nas questões da sustentabilidade, da doença mental e da competitividade.
Com este modelo e composição, o exercício esgota-se com o actual Presidente da República. Seria útil replicar o formato para outros decisores políticos? “Era essencial. Trabalho com muitos políticos autarcas – os agentes políticos ficam muito fechados na centralidade e conhecimento restrito que os assessores lhe trazem”, observa Lara Seixo Rodrigues, sustentando que o grupo permite dar “uma visão mais alargada” sobre o país e não só porque “havia pessoas a viver no estrangeiro que traziam outro tipo de vivências”.
João Rui Ferreira espera que a iniciativa possa “fazer escola”, tendo em conta a multiculturalidade do fórum: “Ser líder é sempre um cargo de alguma solidão.”
Exercício “útil” a decisores
Nascido pela mão de Bernardo Pires de Lima, consultor político do Presidente da República, e apadrinhado por Marcelo, o grupo de reflexão terá a próxima reunião já em Maio ou Junho com uma composição mais jovem – entre os 22 e os 30 anos – com novos temas e com a coordenação de Rita Saias, assessora da casa civil para a Juventude.
Em jeito de balanço, Bernardo Pires de Lima mostra-se satisfeito com a forma como o grupo se manteve activo ao longo dos quatro anos. “Mostrou que é possível mobilizar pessoas sem recompensa financeira ou de lugares”, afirma ao PÚBLICO. E salienta a mais-valia da iniciativa: “É um exercício de relação com a sociedade civil que é útil a decisores.”
A um ritmo entre duas a quatro reuniões por ano, os temas do brainstorming, escolhidos por Pires de Lima em articulação com o Presidente, acabaram por ser influenciados pela pandemia de covid-19. Impôs-se, por exemplo, o debate sobre a saúde mental, mas também o da recuperação do país após a crise de saúde pública e económica.
O último encontro desta composição do grupo, em Outubro do ano passado, foi dedicado aos “grandes investimentos para a década: do PRR ao PT2030”, e teve a participação da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva. Já a anterior, em Junho de 2022, sobre “a cultura como motor da economia portuguesa” contou com o ministro da tutela, Pedro Adão Silva.
Ao manter este canal aberto com o chefe de Estado, Lara Seixo Rodrigues diz perceber melhor as balizas da actuação do Presidente: “É bastante limitado nas suas funções. Mas pedia que não desistíssemos.” Já João Rui Ferreira admite que a sua participação o motivou a “dar outros contributos ao país” por via da política: “Foi inspirador.”