“Eh pá, já foste à casa de banho?” A maior surpresa estava no WC
- Eh pá, já foste à casa de banho?
- Não.
O jornalista olhou para as traseiras da tenda que fazia de centro de imprensa, montada no jardim de um hotel de Viana do Castelo onde decorria a Cimeira Ibérica que juntou, em Novembro passado, António Costa com Pedro Sanchez. O interior da tenda era um espaço frio e desagradável. Uma placa improvisada apontava uma seta a indicar o WC. Hesitou uns segundos e prosseguiu.
- Acho que vou aproveitar a do hotel. Aquilo ali atrás deve ser daquelas dos concertos...
- Nada disso, camarada. Não tem nada a ver. Vai lá experimentar. Aquilo é incrível.
Incrível? O colega estaria a gozar?
Curioso, o jornalista saiu da tenda e quase choca com uma caravana ali estacionada. Sobe uns degraus e entra. O colega segue-o.
- Ena! Isto parece a suíte de um hotel!
Um salão bem decorado, perfumado, com uma temperatura agradável (contrastando com o frio húmido que se fazia sentir na tenda do centro de imprensa), florzinhas. Os lavabos eram encimados por um amplo espelho. Gel e cremes de uma requintada marca de cosméticos compunham a cena.
- Eu não te dizia?
Apesar da exiguidade do veículo, as cabines do WC eram suficientemente espaçosas. E bem cheirosas, perfumadas, impecavelmente limpas.
- Eh pá, já não podemos dizer que fomos maltratados. A tenda é fria, o catering é sofrível, mas pelos menos temos casas de banho de luxo. Quem é o responsável por isto?
- Acho que anda por aí. Devia ser consultor para as casas de banho dos comboios da CP.
- Bom dia! Podemos levar um cartão?
- Faça favor. Chamo-me Luís Carlos. Se precisarem de alguma informação...
Os jornalistas são – intrinsecamente – curiosos. E o empresário não se esquivou às perguntas.
Que tinha um negócio de caravanas que incluía este segmento de WCs de luxo, usadas – pasme-se! – sobretudo em rodagens de filmes para apoio às equipas de produção.
- Olhe, há três anos, no Fonte da Telha... Estava um calor enorme...! O realizador agarrou no portátil e foi escrever para a casa de banho. Temos geradores e ar condicionado. Os veículos são autónomos e aquele era o sítio mais fresco que ali havia.
Naquela manhã fria em Viana de Castelo era ao contrário: o perfumado veículo estava bem aquecido.
Ao contrário de outros veículos similares, com sistemas de despejo de águas sujas, o WC Green do senhor Luís Carlos faz o tratamento dos resíduos com um produto biológico idêntico ao usado nas ETARs. “Se houvesse agora um rebentamento e uma fuga dessas águas, não haveria problema de maior pois sairia água limpa, sem cheiros, sem nada”, explica.
Uma das razões porque estas viaturas se chamam “casas de banho green” é porque não provocam qualquer tipo de poluição sonora ou de emissão de gases. Funcionam com baterias e painéis solares.
Quem se rendeu à magnificência destes WC respeitadores do ambiente foi o próprio Paddy Cosgrave, co-fundador da Web Summit. “Ele ficou passado. Disse que nunca tinha visto uma coisa assim. Insistiu muito em saber se isto era realmente ecológico, fez-me muitas perguntas e chamou os VIPs para virem visitar as casas de banho. E sabe o que me perguntam sempre? É se isto é feito em Portugal...! Claro que sim. Integralmente.”