Raide israelita termina com quatro mortos em Jenin
Entre os mortos estão dois homens armados e um adolescente. Forças israelitas preocupadas com potencial infiltração do Líbano e uso de explosivos em estrada e coletes suicidas.
Um raide israelita em Jenin, no Norte da Cisjordânia, acabou com quatro mortos, incluído dois combatentes palestinianos e um adolescente, segundo fontes palestinianas. Nos últimos doze meses, as forças israelitas detiveram centenas de pessoas na Cisjordânia e mataram mais de 200 palestinianos, entre combatentes e civis, segundo a agência Reuters, enquanto do lado israelita morreram mais de 40 israelitas e três ucranianos em ataques palestinianos.
Há ainda violência levada a cabo por habitantes de colonatos judaicos em território ocupado. Um dos ataques de colonos resultou, recentemente, num morto e dezenas de carros e casas incendiadas numa localidade palestiniana.
A polícia de Israel disse que, na quinta-feira, as suas forças especiais tinham morto dois combatentes em Jenin, um palestiniano que os atacou com uma barra de metal e que houve trocas de tiros com vários militantes durante a operação – e cidade e o campo de refugiados tem sido palco de operações militares frequentes.
A onda de violência está a ser marcada pelo surgimento de novos grupos combatentes palestinianos. Os dois combatentes mortos pertenceriam às chamadas Brigadas de Jenin, que surgiram em 2021 para proteger seis presos palestinianos que tinham fugido da prisão e que prometem resistência a qualquer incursão israelita em Jenin, “não só com pedras, mas também com armas”, explica a estação de televisão Al-Jazeera, do Qatar.
As Brigadas de Jenin são apoiadas pela Jihad Islâmica mas incluem combatentes do Hamas (a facção no poder na Faixa de Gaza), da Frente Popular de Libertação da Palestina e ainda da Fatah (a facção do Presidente, Mahmoud Abbas, no poder na Cisjordânia).
Outro grupo é o Covil do Leão em Nablus, também no Norte da Cisjordânia, que parece ser o exemplo máximo de grupos de jovens que não têm uma ligação com as facções palestinianas e os seus grupos armados, ao contrário do que era habitual, nem uma motivação religiosa.
Explosivos da segunda Intifada
Esta semana houve ainda suspeitas de novos potenciais desenvolvimentos: a informação de que uma explosão na segunda-feira pode ter sido causada por um explosivo posto à beira da estrada – um tipo de ataque que já não era visto há bastante tempo –, e a possibilidade de um homem armado, morto pelas forças israelitas na quarta-feira, ter entrado no país através do Líbano.
Um responsável militar afirmou que o suspeito “tinha armas na sua posse, incluindo um colete suicida pronto a ser activado”, e estavam a decorrer investigações sobre uma potencial ligação do atacante ao movimento xiita libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão.
Quanto ao ataque de segunda-feira, o jornalista do Haaretz Amos Harel lembra que o tipo de explosivos mais usados durante a segunda Intifada (de 2000 e 2004/5) foram coletes suicidas, e que os explosivos à beira da estrada foram comuns sobretudo no Sul do Líbano, contra as tropas israelitas na “zona de segurança” estabelecida pelo Estado hebraico.
Desde então, não tem havido, entre os movimentos palestinianos, muito know-how no fabrico deste tipo de explosivos, diz Harel. Mas a situação parece estar a mudar, com vários exemplos recentes. A motivação para ataques do género “pode estar ligada à crise política e constitucional em Israel, que não tem precedentes”, notou.
Há quem veja o novo Governo de Israel como pretendendo anexar, de facto, a Cisjordânia. Harel nota antes que há quem “interprete esta crise como um ponto fraco que permite uma oportunidade para pressionar o país”.
Enquanto Benjamin Netanyahu visitou, na quinta-feira, a Alemanha, ouviu as preocupações do chanceler, Olaf Scholz, sobre as reformas (o diário Haaretz já lhe chama simplesmente “o golpe judicial”, sendo um modo de retirar poder aos tribunais e deixá-lo apenas nas mãos dos políticos), e nas ruas de Berlim houve protestos contra estas medidas propostas, com muitos israelitas que vivem no país a manifestar-se contra o chefe do Governo de Israel.
Dos Estados Unidos, a preocupação com a situação levou a que até agora não tenha havido uma visita à Casa Branca de Netanyahu – a agência Reuters analisou o padrão de visitas desde o final dos anos 1970 e constatou que no ponto do mandato em que está Netanyahu (onze semanas) a maioria dos chefes de Governo já tinham ou visitado o Presidente dos Estados Unidos na Casa Branca ou recebido uma visita em Israel. Apenas dois em 13 esperaram mais.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, já criticou de modo indirecto, mas público, o que é raro, as medidas que o novo Governo pretende tomar para enfraquecer o poder dos tribunais e o risco que representam para a democracia.