Utentes de Transportes da Margem Sul apelam a intervenção urgente do Governo

Há pessoas que vão a entrevistas de emprego em que lhes é dito que o facto de viverem na Margem Sul pode ser um entrave a chegarem a horas ao trabalho, relata representante dos passageiros.

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O transporte fluvial tem sofrido constrangimentos há já algum tempo por avaria de várias embarcações Miguel Manso

A Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul pediu esta quinta-feira ao Governo para uma intervenção urgente para resolver os problemas na Transtejo/Soflusa, evitando que os utilizadores do transporte que assegura ligações fluviais no Tejo sejam mais prejudicados.

"Queremos que os utentes sejam poupados a mais tempo de espera e a mais horas perdidas no cais à espera que os barcos cheguem", disse o porta-voz da comissão, Marco Sargento, numa reacção ao relatório do Tribunal de Contas (TdC), que acusa a empresa de "faltar à verdade" e de práticas ilegais e irracionais. Já após a divulgação do relatório, o conselho de administração da transportadora demitiu-se.

Em causa está a compra de nove baterias, pelo valor de 15,5 milhões de euros, num contrato adicional a um outro contrato já fiscalizado previamente pelo TdC para a aquisição, por 52,4 ME, de dez (um deles já com bateria, para testes) novos navios com propulsão eléctrica a baterias, para assegurar o serviço público de transporte de passageiros entre as duas margens do Tejo.

Considerando que o problema é dramático para milhares de pessoas que usam diariamente os serviços da Transtejo/Soflusa, a comissão apela a uma intervenção do Governo para resolver "de uma vez os problemas do transporte fluvial no rio Tejo, colocando esta questão no centro das preocupações políticas".

"Temos de ter uma resposta imediata de reforço de oferta", diz Marco Sargento, salientando que os problemas no transporte fluvial no Tejo, que se arrastam há anos, estão a criar um novo estigma na margem Sul, existindo relatos de pessoas que vão a entrevistas de emprego onde lhes é dito que o facto de viverem aí pode ser um entrave a chegarem a horas aos postos de trabalho.

O transporte fluvial tem sofrido constrangimentos há já algum tempo por avaria de várias embarcações, estando em curso um projecto de renovação da frota com a entrada ao serviço prevista de navios eléctricos. A Transtejo assegura as ligações fluviais a Lisboa a partir de Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, enquanto a Soflusa liga o Barreiro ao Terreiro do Paço, em Lisboa. As duas empresas têm uma administração comum.

A 8 de Fevereiro o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que tutela os transportes urbanos, reconheceu na Assembleia da República a existência de problemas na operação da Transtejo e da Soflusa, garantindo que o Governo "tudo está a fazer" para os resolver: "Temos de reconhecer que existe um problema na operação da Transtejo e da Soflusa, empresas que asseguram as ligações fluviais entre Lisboa e o Montijo, Barreiro, Seixal e Almada. Ao dizer isto, o Governo está a reconhecer a existência de um problema que tem trabalhado para ultrapassar em três dimensões: de frota, de operação e de recursos humanos".

Em Novembro, o Governo perspectivava ter disponível a maior parte da nova frota eléctrica de navios ainda durante 2023. O secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, estimou, então, que os primeiros catamarãs eléctricos começariam a operar entre o fim de 2022 e o início de 2023, uma vez que as baterias e os postos de carregamento já estavam contratados.

Em Setembro, a Transtejo tinha anunciado que a empreitada de construção e fornecimento de estações de carregamento da nova frota eléctrica havia sido adjudicada por cerca de 14,4 milhões de euros.