A Associação Vezeira criou um programa de apadrinhamento de cabras bravias para ajudar a preservar esta raça autóctone e manter a tradição da vezeira da rés, ou seja, de pastorear à vez em Fafião, aldeia de Montalegre.
A vezeira da rés é uma tradição secular da aldeia comunitária de Fafião, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), e consiste em cada pastor tomar conta das cabras de todos à vez.
"As pessoas com mais idade foram desistindo e os jovens não querem, porque é muito difícil fazer o pastoreio das cabras em serra. Todos os dias os pastores fazem cerca de 15 quilómetros neste território", afirmou Júlio Marques, da Associação Vezeira, criada em 2010 para preservar o património histórico-cultural desta região.
O responsável recordou que a vezeira de Fafião já teve "mais de 2000 cabras e mais de 20 pastores", "o que fazia com que muitos dos pastores só precisassem de ir pastorear uma vez de 20 em 20 dias".
Em 2016 e 2017, ainda havia "cerca de 600 cabras" na aldeia, um número que foi, depois, decrescendo todos os anos.
Preocupada com o declínio dos rebanhos desta espécie autóctone, a associação acabou por adquirir 200 cabras, introduzindo-as na vezeira, e contratou um pastor. Neste momento, segundo Júlio Marques, há apenas dois pastores de cabra bravia e dois rebanhos, acabando por ser o da associação a passar mais dias na serra com os animais.
Apadrinhar uma cabra em nome da tradição
Para ajudar a manter a tradição, a Vezeira criou um programa de apadrinhamento dirigido a particulares e a empresas e que é feito de forma anual. Pode apadrinhar-se apenas uma cabra, por 25 euros, ou 20 animais, por 500 euros. A verba angariada na iniciativa "Apadrinhar a Vezeira" é aplicada em medicamentos para os animais, na sua desparasitação, no maneio, alimentação suplementar e manutenção do pastor.
Os objectivos do programa passam pela preservação da tradição histórico-cultural da vezeira da rés da aldeia comunitária de Fafião e pela protecção da raça autóctone da cabra bravia cada vez mais ameaçada e em perigo de extinção. Também pretendem fazer a limpeza dos terrenos baldios com o intuito de prevenir incêndios e facilitar o combate e ainda impulsionar o turismo de experiências no mundo rural, por exemplo, assinalando o Dia do Pastor.
Júlio Marques referiu que está a ser preparado também o Dia do Apadrinhamento, que incluirá visita aos animais.
Para além do pastoreio das cabras, em Fafião, ainda se mantém activa a vezeira das vacas, mas com mais animais e mais criadores. As vacas começam a subir a serra em Maio, onde permanecem até final de Setembro, Outubro, a cada dia acompanhadas por um criador. Júlio Marques referiu que os animais não são deixados sozinhos também para os proteger dos lobos.