Credit Suisse: ajuda de emergência do banco central limitou perdas, mas stress mantém-se
Acções do Credit Suisse recuperam parte do valor perdido depois do anúncio de que irá receber um empréstimo de 51 mil milhões de euros do banco central. Dívida continua sob pressão.
O Credit Suisse tornou-se esta quinta-feira o primeiro banco de grande dimensão à escala mundial a ter de receber uma ajuda pública de emergência desde a crise financeira de 2008. É de 50 mil milhões de francos suíços, ou cerca de 51 mil milhões de euros, o empréstimo que o banco central suíço irá disponibilizar à instituição financeira, numa tentativa de limitar a turbulência que se vive actualmente nos mercados financeiros.
Ao longo da última quarta-feira, o Credit Suisse, uma das principais instituições do poderoso sector bancário da Suíça, com presença em praticamente todos os cantos do mundo, sofreu uma queda brusca na confiança dos investidores e clientes sobre a sua capacidade para resistir à actual conjuntura de subida das taxas de juro e de anúncios de falência na banca regional norte-americana.
Foi o anúncio de um dos seus principais accionistas de que não iria ser capaz de reforçar mais o capital no banco que desencadeou os problemas. As acções do Credit Suísse caíram a pique e contagiaram negativamente o resto das acções da banca europeia, que perderam 7% do seu valor ao longo da sessão do mercado bolsista desta quarta-feira.
Os responsáveis do banco apelaram à intervenção do banco central e esta chegou na quinta-feira de manhã antes da reabertura dos mercados. Para além de garantir que o Credit Suisse cumpre “os requisitos de capital e de liquidez exigidos aos bancos sistemicamente relevantes”, a autoridade monetária suíça disponibilizou uma linha de crédito de emergência de grandes dimensões para garantir que não há dúvidas nos mercados de que o banco terá mesmo toda a liquidez de que precisa para fazer face à corrida aos depósitos que já se tem vindo a registar.
O Credit Suisse anunciou por sua vez que iria recorrer no imediato a essa linha, através de um crédito de 50 mil milhões de francos suíços (cerca de 51 mil milhões de euros).
A medida conseguiu acalmar os mercados. Durante as primeiras horas da sessão, as acções do Credit Suisse subiram 24%, recuperando uma parte do valor perdido no dia anterior. Os títulos acabariam por encerrar o dia a recuperar 19%, um alívio que se alastrou ao resto do sector bancário europeu, também tranquilizado pelas palavras de Christine Lagarde, presidente do BCE, a meio do dia, quando afirmou que "o sector bancário está muito, muito mais forte do que em 2008".
Já os indicadores de risco de falência do banco assumidos pelos mercados também registaram uma melhoria significativa nas primeiras horas desta quinta-feira, mas neste caso esta recuperação foi praticamente anulada com o decorrer da sessão.
As obrigações do Credit Suisse voltaram a sofrer perdas no final do dia, mesmo depois de o banco ter anunciado que iria recomprar títulos de dívida própria no valor de perto de três mil milhões de francos suíços. As obrigações denominadas em dólares caíram entre 5% e 13% nos prazos de quatro e cinco anos, respectivamente, baixando da fasquia dos 70 cêntimos e negociando em terreno já classificado como títulos “sob stress”.
Já o custo de comprar garantias contra um eventual incumprimento do banco junto dos seus credores, que aumentou substancialmente nos últimos dias, tendo mesmo mais que duplicado face ao valor da semana passada, recuou mas apenas ligeiramente desde as notícias sobre o apoio do banco central suíço.
Durante esta semana, tanto autoridade monetária como o Tesouro norte-americanos também foram forçados a intervir para tentar travar o contágio decorrente da falência de dois bancos de dimensão média e ligados ao sector tecnológico nos EUA, garantindo aos seus clientes que poderão aceder à totalidade dos seus depósitos.
Já esta quinta-feira, a secretária de Estado do Tesouro norte-americana explicou a intervenção que as autoridades foram forçadas a fazer nos bancos Silicon Valley Bank e Signature Bank, assegurando que o sistema bancário dos EUA continua sólido e que os clientes dos bancos podem confiar que os seus depósitos estão seguros. Ainda assim, alertou, nem todos os depósitos estão a salvo.
“Um banco só terá esse tratamento [depósitos garantidos pelo Tesouro acima do limite de 250 mil dólares] se a Reserva Federal, o Fundo de Garantia Depósitos e eu, em consulta com o Presidente [Joe Biden], determinarmos que não proteger os depósitos sem garantia irá criar um risco sistémico e terá consequências económicas e financeiras significativas”, explicou Janet Yellen.
Estas intervenções bastante agressivas nos EUA e na Suíça, no entanto, não evitam que se mantenha o receio relativamente à possibilidade de os problemas na banca regional norte-americana e no Credit Suisse minarem a confiança de clientes e investidores do sector bancário à escala mundial, destapando, num ambiente de taxas de juro mais altas, problemas que antes não estavam à vista. com PFE
Texto actualizado às 18h00 com a evolução dos mercados no final do dia e com as declarações de Yellen