Ciclone Freddy já causou mais de 300 mortes em Moçambique
O Presidente Lazarus Chakwera do Malawi declarou 14 dias de luto nacional e apelou ao apoio internacional para o socorro às vítimas do ciclone tropical mais duradouro registado no planeta.
O número de mortes causadas pelo ciclone tropical Freddy ultrapassa as 300 vítimas, revelaram as autoridades em Moçambique após uma operação de vários dias para avaliar a extensão dos danos e perdas de vidas. A tempestade devastou a África Austral durante o fim-de-semana, pela segunda vez, após um primeiro embate no final de Fevereiro. É um dos ciclones tropicais mais duradouros alguma vez registados e um dos mais mortíferos em África nos últimos anos.
Pelo menos 53 pessoas morreram na província da Zambézia em Moçambique, disseram as autoridades na quarta-feira, mais do que duplicando a sua contagem anterior. Infelizmente, espera-se que esta contagem de vítimas continue a aumentar, disse a agência das Nações Unidas para as crianças UNICEF.
O Malawi relatou 225 mortos até agora, com mais centenas de feridos e algumas pessoas ainda desaparecidas. A tempestade matou cerca de 27 pessoas em Madagáscar e Moçambique antes de atingir Moçambique uma segunda vez.
A chuva contínua e os cortes de energia dificultaram os esforços de busca e salvamento esta semana, uma vez que a tempestade causou graves inundações, varreu estradas e deixou corpos e casas enterradas na lama.
Na aldeia de Mtauchira, no sul do Malawi, seis homens levaram um caixão por uma estrada de terra que se tinha transformado num rio, escorregando na lama enquanto a chuva continuava a cair.
Outras vítimas ficaram em sepulturas recentemente escavadas que se tinham enchido como piscinas, obrigando à recolha da água com baldes para que pudessem descer nos caixões. Nas proximidades, parentes dos mortos choravam e abraçavam-se uns aos outros, alguns segurando guarda-chuvas enquanto outros permaneciam debaixo da chuva, encharcados.
O Presidente Lazarus Chakwera do Malawi declarou 14 dias de luto nacional e apelou ao apoio internacional para os esforços de socorro. Segundo afirmou, há mais de 80 mil pessoas que foram deslocadas das suas casas.
A electricidade começou a voltar no Malawi esta quinta-feira, mas muitos locais afectados pela tempestade não tiveram água corrente ao logo de uma semana, incluindo na segunda maior cidade, Blantyre.
Dilúvio em cima de um surto de cólera
Este dilúvio abateu-se sobre países já muito fragilizados. O Malawi enfrenta o pior surto de cólera de que há registo no país. “Está em todo o país, e afecta mais de 50 mil pessoas e já provocou mais de 1500 mortes”, disse Rudolf Schwenk, representante da UNICEF no Malawi, citado num comunicado das Nações Unidas divulgado no início desta semana. “Mais de 12 mil crianças contraíram cólera e, infelizmente, 197 – quase 200 – morreram”, acrescentou. Os deslizamentos de terras e inundações provocados pelo ciclone Freddy podem agravar o surto de cólera.
Em Moçambique, as consequências do desastre natural ultrapassam as capacidades das agências humanitárias, disse à Reuters Guy Taylor, coordenador de comunicação e parcerias da UNICEF em Moçambique em Quelimane. “Vimos muitos edifícios destruídos. O vento levou o telhado das casas das pessoas. Ainda antes da passagem do ciclone havia inundações localizadas”, explicou este responsável no mesmo documento.
Sobre Moçambique abateu-se uma quantidade de chuva impressionante: durante o último mês, caiu tanta chuva como a que costuma cair durante todo o ano, o que aumentou o risco de os rios extravasarem as suas margens. A chuva provocada pelo Freddy em Madagáscar numa só semana foi três vezes superior à média mensal, contabilizou a Organização Meteorológica Mundial (OMM).