Inflação dos EUA diminui para 6% em tempos de incerteza para a Fed

Numa altura em que as preocupações da Reserva Federal se dividem entre o risco de crise bancária e a necessidade de travar os preços, a inflação homóloga nos EUA registou só uma ligeira diminuição.

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Jerome Powel, presidente da Reserva Federal norte-americana Reuters/KEVIN LAMARQUE

A uma semana de mais uma reunião e no meio de uma ameaça de crise grave no seu sistema bancário, a Reserva Federal norte-americana viu a taxa de inflação homóloga em Fevereiro registar uma ligeira redução para 6%. O resultado mantém as dúvidas sobre qual será o rumo imediato das taxas de juro nos EUA.

De acordo com os dados publicados esta terça-feira pelo Departamento do Trabalho norte-americano, os preços continuaram a subir nos EUA em Fevereiro, com uma variação face ao mês de Janeiro de 0,4%, depois de no primeiro mês do ano terem subido 0,5%.

Este resultado conduziu, por causa de um efeito-base positivo, a que a taxa de inflação homóloga (a variação dos preços face ao mesmo mês do ano anterior) caísse dos 6,4% de Janeiro para 6%, afastando este indicador do pico de 9,1% que tinha sido atingido no passado mês de Junho.

Os valores registados foram ao encontro daquilo que eram as expectativas dos analistas, mostrando que, depois de uma queda forte na fase final do ano passado, a inflação dos EUA está, no arranque de 2023, a recuar de forma mais lenta.

Para além disso, no que diz respeito à taxa de inflação homóloga subjacente, que exclui da análise os bens com preços mais voláteis como a energia e os alimentos, o recuo foi ainda mais pequeno, de 5,6% em Janeiro para 5,5%.

A este ritmo de descida, existem dúvidas de que a Fed consiga trazer a taxa de inflação para o seu objectivo à velocidade que deseja. E foi isso que levou a que o presidente da Reserva Federal tenha, na semana passada, transmitido a mensagem aos mercados de que poderia voltar a acelerar a subida das taxas de juro.

O problema, para a Fed, é que, entre as declarações de Jerome Powell na semana passada e o dia de hoje, deflagrou uma crise no sistema bancário dos EUA que pode forçar a autoridade monetária a ser bem mais prudente na hora de decidir mais taxas de juro.

A falência do Silicon Valley Bank (SVB), as corridas aos depósitos que se fazem sentir noutros bancos regionais de pequena e média dimensão, e a perda de valor de mercado registada na generalidade do sector financeiro dos EUA fazem com que a expectativa de uma subida de taxas de 0,5 pontos percentuais por parte da Fed na próxima semana se tenha reduzido drasticamente.

A maior parte dos analistas considera que o banco central não vai querer arriscar, na actual conjuntura de incerteza que se vive nos mercados, lançar mais um motivo de instabilidade para o sector bancário com mais uma subida acentuada das taxas de juro, até porque a subida de 4,5 pontos percentuais registada neste indicador ao longo dos últimos 12 meses (o mais rápido endurecimento da política monetária desde os anos 1980) é um dos motivos por trás das dificuldades sentidas pelo Silicon Valley Bank e por outros bancos do mesmo tipo nos EUA.

Esta terça-feira, os analistas do banco de investimento Goldman Sachs passaram a prever que a Fed, em vez de acelerar o ritmo de subida de taxas de juro, irá mesmo travar por completo este movimento na próxima semana, no final da reunião agendada para terça e quarta-feira.

Já esta semana, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) irão reunir-se para decidir o que fazer às taxas de juro. A expectativa era a de que saísse da reunião uma subida de mais 0,5 pontos percentuais nas principais taxas de referência do BCE e um sinal de que novas subidas ainda estariam a caminho.

No entanto, depois da crise desencadeada pela falência do Silicon Valley Bank, os investidores parecem estar a apontar para que, também na zona euro, a opção seja por um ritmo mais moderado de subida dos juros. As taxas de juro da dívida pública caíram nos últimos dias, assim como a Euribor, que serve de referência para a maior parte dos empréstimos em Portugal.

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