Mais de 90 mil pedem ao Parlamento criminalização de maus-tratos a animais

Petição da União Zoófila apela a “interpretação ética” do Tribunal Constitucional sobre a lei que pune agressores de qualquer animal. Nos últimos cinco anos foram registados 10 mil crimes.

Foto
Até ao final de Janeiro, 17 pessoas foram detidas por agressão ou abandono de animais Reuters/UESLEI MARCELINO

Uma petição da União Zoófila (UZ) com mais de 90 mil assinaturas defendendo a criminalização dos maus-tratos a animais vai ser entregue esta quarta-feira, 15 de Abril, na Assembleia da República, indicou esta segunda-feira, em comunicado, a UZ.

Para ser discutida no Parlamento, uma petição necessita de um mínimo de 7.500 assinaturas, pelo que a comissão organizadora do requerimento refere ter "a certeza" de que este "irá ser discutido muito em breve" na Assembleia da República, "suscitando a apresentação de projectos de lei sobre essas matérias".

"Os peticionários apelam ao Tribunal Constitucional para que promova uma interpretação ética e actualista da nossa lei fundamental, aí incluindo a protecção dos animais, e à Assembleia da República que alargue a tutela penal aos animais sencientes, não apenas os animais de companhia, aperfeiçoe as normas vigentes e inclua a referência expressa aos animais no texto da Constituição", escreveu a União Zoófila.

O pedido surge depois de o Tribunal Constitucional ter declarado em três ocasiões que a lei actual era inconstitucional. A questão da inconstitucionalidade da norma que criminaliza com multa ou prisão quem, sem motivo legítimo, mate ou maltrate animais de companhia está a ser analisada uma vez mais a pedido do Ministério Público.

Segundo o comunicado, além da petição, "será ainda entregue um manifesto, onde mais de 40 personalidades de relevo na área do Direito em Portugal e mais de 50 associações e movimentos, pedem a manutenção da tutela penal que protege os animais de companhia, garantindo a efectiva "construção de uma sociedade livre, justa e solidária", inclusive para com os animais".

A 21 de Janeiro último, milhares de pessoas manifestaram-se em Lisboa contra a possibilidade de a lei que criminaliza os maus-tratos a animais vir a ser declarada inconstitucional. No mesmo dia, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que o bem-estar animal devia ser "devidamente legislado", recordando que o Parlamento o podia fazer seja "em sede de legislação ordinária" ou através do processo de revisão constitucional que está em curso.

Por seu turno, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, afirmou que o Governo apoia uma clarificação da lei sobre criminalização de maus-tratos a animais de companhia, para que não haja retrocessos nesta matéria. "A interpretação do Tribunal Constitucional resultou na impunidade de crimes horrendos contra animais", assinala o comunicado. Os subscritores do pedido declaram-se inconformados com a "inércia dos poderes constituídos".

Dados enviados à Lusa pela PSP e GNR no final de Janeiro indicam que 17 pessoas foram detidas por abandono ou maus-tratos a animais de companhia e registaram quase 10 mil crimes nos últimos cinco anos.