Coreia do Norte lança mísseis de submarino em resposta a exercícios EUA-Coreia do Sul
Governo norte-coreano diz que os mísseis em causa têm um alcance de 1500 quilómetros, o que levou o Japão a mostrar-se “preocupado”.
Um submarino da Coreia do Norte disparou no domingo dois mísseis de cruzeiro com capacidade nuclear, numa altura em que os EUA e a Coreia do Sul se preparam para iniciar os seus exercícios militares anuais na região da península coreana.
Segundo a agência estatal norte-coreana (a KCNA), o lançamento confirmou a fiabilidade do sistema e testou as operações ofensivas subaquáticas das unidades submarinas que fazem parte da dissuasão nuclear da Coreia do Norte.
O Estado-Maior General das Forças Armadas da Coreia do Sul salientou, nesta segunda-feira, que os militares sul-coreanos estão em alerta máximo e que as agências de informação do país têm trabalhado em conjunto com as agências equivalentes nos EUA na análise das "especificidades do lançamento".
As tropas sul-coreanas e norte-americanas iniciam, nesta segunda-feira, 11 dias de exercícios conjuntos — a operação Escudo da Liberdade 23 —, que serão realizados numa escala que não era vista desde 2017.
Os exercícios vão fortalecer a postura defensiva combinada dos aliados e vão contar com exercícios de campo, incluindo desembarques anfíbios.
"Provocação"
Há muito que estes exercícios são vistos na Coreia do Norte como um ensaio para uma invasão. No ano passado, o país realizou um número recorde de testes com mísseis, no que diz ser um esforço para aumentar a sua dissuasão nuclear.
"É lamentável que a Coreia do Norte esteja a usar os nossos exercícios defensivos regulares como pretexto para uma provocação", disse Koo Byoung-sam, porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, que trata das relações com o Norte. "Espero que a Coreia do Norte perceba que não há nada que possa ganhar com a escalada das tensões na península coreana."
Os disparos a partir de submarinos têm como objectivo mostrar a determinação da Coreia do Norte em controlar uma situação na qual, segundo a KCNA, "os imperialistas dos EUA e as forças fantoches sul-coreanas estão a ficar cada vez transparentes nas suas manobras militares hostis".
Segundo a KCNA, os mísseis estratégicos foram disparados do submarino 8.24 Yongung às primeiras horas do domingo. Os mísseis terão viajado 1500 quilómetros antes de terem atingido um alvo no mar, diz a agência norte-coreana.
Não é claro se a Coreia do Norte já desenvolveu as ogivas nucleares necessárias para caberem nos mísseis. Analistas dizem que o aperfeiçoamento das ogivas seria um objetivo importante se a Coreia do Norte retomasse o seu programa de testes nucleares.
Ameaça séria
Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul, disse à Reuters que os mísseis de cruzeiro norte-coreanos lançados de um submarino representam uma ameaça que os Estados Unidos devem levar a sério, mas salientou que Pyongyang pode estar a exagerar as suas capacidades.
"O regime de Kim quer mostrar que pode igualar ou superar as capacidades militares exibidas durante os exercícios de defesa dos EUA e da Coreia do Sul. No entanto, a realidade é que os soldados norte-coreanos estão mal alimentados e estão a receber ordens para ajudar os agricultores a lidar com a escassez de alimentos no país", disse Easley.
O presidente do Conselho de Ministros do Japão, Hirokazu Matsuno, disse que não há informações de que os mísseis tenham voado em direcção às águas do Japão.
"Se o anúncio da Coreia do Norte de que o míssil tem um alcance de mais de 1500 quilómetros é verdadeiro, isso representaria uma ameaça à paz e à estabilidade da região, o que nos deixaria preocupados", disse Matsuno.
Matsuno disse que a dissuasão militar dos EUA na Ásia-Pacífico é "essencial" na região, acrescentando que a Coreia do Norte "pode adoptar novos actos de provocação, como um teste nuclear".
A Coreia do Norte tem uma grande frota de submarinos, mas o 8.24 Yongung é o seu único submarino experimental de mísseis balísticos. Analistas dizem que desempenha um papel crítico no desenvolvimento de mísseis, tecnologia submarina e procedimentos operacionais, bem como treino prático de novos submarinistas.