Ice Merchants não levou o Óscar — mas o objectivo sempre foi “chegar às pessoas”
“Irem à sala de cinema e verem o filme é o melhor prémio que nos podiam dar”, repetiu o realizador João Gonzalez, à saída dos Óscares, em Los Angeles.
Não foi desta que João Gonzalez, realizador de Ice Merchants, conseguiu subir ao palco dos Óscares e agarrar na estatueta. Mas isso não o impediu de fazer um discurso de agradecimento: “Acabou agora a cerimónia. Queríamos acima de tudo agradecer a toda a gente em Portugal que nos apoiou. Foi um carinho enorme que sentimos desde o início”, disse o nomeado, num vídeo gravado ao lado do produtor Bruno Caetano, da cooperativa de produção independente Cola Animation, parte da pequena equipa a quem o realizador, ilustrador e músico deixou sinceros elogios.
Atrás dos dois portugueses, vê-se no vídeo nomeados e vencedores a tirarem as últimas fotografias de grupo no Dolby Theatre, em Los Angeles, que recebeu a 95.ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. O Óscar de Melhor Curta de Animação foi, com poucas surpresas, para The Boy, the Mole, the Fox and the Horse, de Charlie Mackesy e Matthew Freud, uma produção da BBC e da Apple com uma equipa de 120 pessoas de 20 países.
“Não ficamos com o troféu mas podem ver pela nossa cara que estamos muito felizes”, continuou João Gonzalez, 27 anos, que co-animou o filme com a artista polaca Ala Nunu. Não há motivo para crer que não estava a ser sincero: Ice Merchants, o primeiro filme português nomeado para os Óscares, venceu no final de Fevereiro o prémio de melhor-curta metragem nos Annie, em Los Angeles. Se é verdade que Hollywood espalha mediatismo e impacto, os Annie têm um lugar especial na carreira de qualquer realizador de animação.
A curta de 14 minutos começou o seu caminho por mais de uma centena de festivais na Semana da Crítica do Festival de Cannes, onde se tornou o primeiro filme de animação português a ganhar o Leitz Cine Discovery. O palmarés invejável, a atenção mediática, os apoios financeiros do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da Câmara do Porto e do Ministério da Cultura e o passa-palavra de quem viu o filme em festivais de cinema de animação arrastaram para as salas dez mil espectadores em Portugal e mais de 200 mil em todo o mundo, contabiliza a Agência da Curta Metragem.
“Irem à sala de cinema e verem o filme é o melhor prémio que nos podiam dar”, conclui Gonzalez, com esperanças que a curta mensagem acalme os jornalistas em Portugal. Antes, já tinha dito que o plano era despir o smoking e descansar, sozinho, para logo se atirar à próxima imagem que irá transformar na sua quarta curta-metragem. “Metemos o pezinho na água”, brinca o produtor Bruno Caetano. “Que venham os próximos e mergulhem.” De cabeça.