É muito mais fácil chamar-lhe “Kvaradona”

Khvicha Kvaratskhelia é um dos craques do Nápoles, a equipa da moda do futebol europeu que está cada vez mais perto de voltar a ser campeã.

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Kvaratskhelia marcou o primeiro golo do Nápoles frente à Atalanta Reuters/CIRO DE LUCA
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EPA/CESARE ABBATE

Não era para ser assim. O Nápoles perdera Lorenzo Insigne, Kalidou Koulibaly e Dries Mertens, respectivamente, o capitão, o vice-capitão e o máximo goleador da sua história. Não iam ter o suficiente, pensavam os adeptos napolitanos. E quem raio é este Kvarachet… este Kvaratch… este tipo com demasiadas consoantes no nome? Mais, como é que se pronuncia o nome? Aurelio de Laurentis, dono do Nápoles, não tinha uma resposta quando anunciou a contratação do jovem avançado georgiano. “Vamos chamar-lhe qualquer coisa. Pode ser o Zizi, não me parece mal.”

Agora, não haverá nenhum adepto do Nápoles que não saiba dizer na perfeição o nome de Khvicha Kvaratskhelia, o habilidoso avançado ambidestro que já leva 13 golos e 13 assistências numa temporada em que todos os sonhos são permitidos para o clube do sul de Itália. Mas é bem mais fácil chamar-lhe "Kvaradona", porque evoca os melhores tempos do Nápoles com o seu maior ídolo de sempre, Diego Armando Maradona. Nunca o Nápoles tinha sido campeão antes dele e não voltou a sê-lo depois. Mas está cada vez mais perto e muito graças (mas não só) ao seu craque georgiano de nome impronunciável.

Neste sábado, no Estádio Diego Armando Maradona (ex-San Paolo), as coisas estavam difíceis para o Nápoles perante a Atalanta de Gasperini. À hora de jogo, com um empate sem golos, Kvaratskhelia recebeu uma bola de Osimhen, avançou para a área, onde estavam sete jogadores da Atalanta (mais o guarda-redes), criou um bocadinho de espaço e golo. Espectacular como muitos dos que já marcou, a abrir caminho para o triunfo napolitano por 2-0 (Rrahmani, central kosovar, marcou o outro golo).

Uma semana depois da derrota caseira com a Lazio, que lançou uma ponta de dúvida na Série A, “recomeçou a contagem decrescente do Nápoles” rumo ao “scudetto”, como escreveu a Gazzetta delo Sport.

Kvaratskhelia tem sido figura maior nesta época em que o Nápoles está mais perto do que nunca de voltar a festejar um título de campeão, algo que já não acontece desde 1990. Desconhecido para muitos, marcou três golos nos seus dois primeiros jogos com o Nápoles e rapidamente se tornou num fixo para Luciano Spaletti.

A fazer parceria no flanco esquerdo com o português Mário Rui, o georgiano de 22 anos ganhou notoriedade internacional e deixou muita gente a perguntar: como é que o Nápoles conseguiu contratá-lo por apenas dez milhões de euros?

Numa palavra: guerra. Antes de aterrar na Série A, Kvaratskhelia jogava no Dínamo de Batumi, da primeira divisão georgiana, onde tinha chegado proveniente do Rubin Kazan. Depois do início da guerra, em Fevereiro do ano passado, a FIFA deu liberdade aos jogadores estrangeiros que actuavam em clubes russos de poderem sair e Kvaratskhelia aproveitou a liberdade de movimentos. Regressou ao seu país (mas não à sua cidade; nasceu em Tbilisi) em Abril, fez 18 jogos, marcou oito golos e, pouco depois estava a ser contratado pelo Nápoles.

Dez milhões não são nada no futebol moderno. Mas é sempre um risco gastar esta quantia num jogador relativamente desconhecido. Kvaratskhelia já aparecia nos relatórios de scouting há vários anos como um dos que mais dribles tentava durante o jogo, mas a Rússia e a Georgia não são propriamente os campeonatos com maior visibilidade do mundo – nem têm fama como viveiros de talento futebolístico.

Falava-se do interesse do Tottenham, Leeds United ou Juventus, mas o Nápoles falou mais alto. Alguns meses depois, a lista de interessados é de outro patamar – Manchester City, Chelsea, Real Madrid. E o Nápoles, para o conseguir ter mais algum tempo, quer renovar-lhe o contrato e dar-lhe um ordenado maior. "Kvaradona" talvez não fique muito tempo na cidade de Maradona (que por lá ficou seis anos), mas, como as coisas estão (líder da Série A com 18 pontos sobre o Inter e qualificação bem encaminhada para os quartos-de-final da Champions), o Nápoles nunca irá esquecer o seu nome.

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