Um Mundial de futebol ibérico de Kiev a Casablanca? É possível

A candidatura de Portugal e Espanha ao Campeonato do Mundo de futebol de 2030 pode manter a Ucrânia e incluir Marrocos. Mas como e em que condições, não se sabe.

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Portugal está na corrida à organização do Mundial 2030 Reuters/HANNAH MCKAY

A candidatura de Portugal e Espanha ao Mundial 2030 parece ainda não estar fechada, segundo tem noticiado a imprensa internacional nos últimos dias. Depois de a Ucrânia se ter juntado oficialmente à proposta ibérica em Outubro passado, pode haver mais um parceiro, mas noutro continente, Marrocos. Segundo o jornal espanhol AS e o site “The Athletic”, a intenção seria substituir a Ucrânia por Marrocos na proposta que será votada no congresso da FIFA em Setembro de 2024, mas, segundo apurou o PÚBLICO, não está, para já, a ser ponderada a exclusão da Ucrânia. Pode até acontecer uma proposta que inclua os quatro países.

Esta candidatura ao Mundial 2030 começou por ser uma parceria entre as duas nações ibéricas, com os presidentes das duas federações de futebol, Fernando Gomes e Luis Rubiales, a fazerem uma declaração pública de intenções para avançar em Outubro de 2020. A parceria foi oficializada em Junho de 2021 e, em Outubro do ano passado, a Ucrânia juntou-se à proposta, uma incorporação que teve o “apoio incondicional” da UEFA, segundo comentou na altura o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Contudo, segundo o AS, a participação ucraniana na proposta para 2030 estará em risco devido à suspensão de Andriy Pavlenko, presidente da federação ucraniana, que está a ser investigado por fraude e lavagem de dinheiro. Acrescenta o The Athletic que a guerra Ucrânia/Rússia continua em curso e que, dentro da candidatura, o sentimento é que “a possibilidade de a Ucrânia recuperar a tempo de organizar jogos da fase de grupos do Mundial parece ser cada vez menor”.

Neste sentido, acrescentam as publicações, a adesão marroquina à proposta ibérica estará a ser estudada, condicionada pela continuidade ucraniana. Segundo o AS, este será um plano de contingência para o caso de a Ucrânia não prosseguir como parceiro da candidatura, havendo, nesta altura, margem de manobra para que se mantenha na proposta.

Pode até dar-se o caso de este passar a ser uma proposta de quatro países. Da parte da FPF, não há qualquer comentário sobre uma hipotética inclusão do país do norte de África numa candidatura, até agora, exclusivamente europeia, mas a porta para uma proposta intercontinental ficou aberta a partir do momento em que Grécia (Europa), Egipto (África) e Arábia Saudita (Ásia) juntaram esforços para receber o torneio. Também na corrida está uma proposta sul-americana que abrange quatro países, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile.

Da parte de Marrocos, a associação à candidatura ibérica talvez seja a melhor via para receber jogos de um Mundial de futebol. Os marroquinos são candidatos recorrentes à organização do torneio, tendo apresentado propostas para 1994, 1998, 2006, 2010 e 2026 – todas elas foram a votação. Também era tido como candidato a solo para o Mundial 2030, sendo que também foi veiculada a possibilidade de se juntar a Argélia e Tunísia numa proposta norte-africana.

Quando foi anunciada a integração da Ucrânia na proposta conjunta de Portugal e Espanha, não foram divulgados pormenores sobre a “fatia” do Mundial que iria ter, sendo certo que haveria uma distribuição desigual entre os dois vizinhos ibéricos no que diz respeito a estádios – 11 recintos espanhóis e três portugueses, Luz, Dragão e Alvalade. E não é fácil projectar quais poderão ser as cidades-sede do Mundial em território ucraniano, dado o conflito que se estende por todo o país – no Euro 2012, que a Ucrânia organizou em conjunto com a Polónia, foram quatro, Kiev, Lviv, Kharkiv e Donetsk.

Também não será fácil adivinhar a dimensão de uma eventual participação de Marrocos nesta proposta. O livro de candidatura marroquina ao Mundial de 2026 apresentava 14 estádios para receber os jogos do torneio, entre eles o Grand Stade de Casablanca - que teria/terá capacidade para 93 mil espectadores, mas que ainda não passou da fase de projecto. Marrocos acabaria por perder na votação para a proposta conjunta das Américas (Canadá/EUA/México), que terá 16 estádios distribuídos pelos três países.

Esta não é a primeira vez que Marrocos aparece associada a uma candidatura ibérica. Em 2018, foi noticiado que Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, lançou essa ideia ao rei de Marrocos, Mohammed VI, durante uma visita oficial ao país, e que havia receptividade por parte do monarca. E na altura, até António Costa, primeiro-ministro português, qualificou essa possibilidade como uma “belíssima ideia política”.

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