Arcebispo de Évora sobre afastamento de padre: “A questão moral não prescreve”
Francisco Senra Coelho já elaborou dossiê sobre caso de abusos sexuais relatado por Comissão Independente, afastou pároco e espera sentença do Vaticano
“A questão moral não prescreve”. É assim que o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, justifica em entrevista ao PÚBLICO/Renascença, que poderá ler na íntegra esta quinta-feira, a sua decisão de afastar um sacerdote do ofício de pároco e de qualquer contacto com menores, por suspeitas de abuso sexual. O nome deste padre chegou via Comissão Independente e, apesar de dizer respeito a factos ocorridos há 40 anos, que já prescreveram perante o direito civil português, o caso já está no Vaticano que vai decidir o seu desfecho.
"Évora recebeu dois nomes. O primeiro é de uma pessoa já falecida. Sobre o outro caso, pedi mais dados à comissão independente, que imediatamente me deu os pormenores da questão. Como medida cautelar, [o sacerdote] foi afastado do ofício de pároco, de acordo com as instruções da Santa Sé sobre procedimentos para tratar os casos de abuso sexual de menores cometidos por clérigos", afirmou, explicando que tecnicamente não se usa o termo "suspensão". Esse padre fica afastado até ser recebida a resposta do Vaticano sobre qual o castigo a aplicar.
Segundo o arcebispo de Évora, a sentença a aplicar deverá demorar "mês e meio" e poderá, no limite, ser a suspensão do padre, o que se chama "redução ao estado laical".
"Até que venha a resposta de Roma, a medida cautelar pode ser acrescentada ou diminuída. Quer dizer, podemos alterar a medida cautelar, podemos pôr mais resguardos, afastá-lo ainda mais, ou podemos diminuir se de facto se verificar que não há perigo nenhum", acrescenta Francisco Senra Coelho, explicitando que seja qual for a decisão de Roma "será comunicada" ao Ministério Público, "apesar de não haver uma obrigação restrita, porque passam 40 anos sobre o facto". "Mas eu vou comunicar por uma questão de fidelidade às orientações e sugestões do Papa Francisco", diz.
Domingo, o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, alegou que só a Santa Sé pode suspender um padre suspeito, tendo sido desmentido pelo bispo auxiliar de Braga e pelo reitor do seminário de Coimbra.