Um filme conformado sobre a rebeldia
Nunca há cinema à altura da intensidade dos dilemas em discussão em A Voz das Mulheres.
A Voz das Mulheres adapta um romance da escritora canadiana Miriam Toews, que por sua vez se baseava em factos sucedidos nos anos 2000, numa comunidade menonita algures na Bolívia. Expostos os casos de abusos, violações e outras agressões sexuais que as mulheres sofreram durante anos às mãos dos homens da comunidade, foi-lhes feito um ultimato: ou perdoavam os homens, ou ficava-lhes vedada a entrada no “reino do céu”. E, apesar de algumas divagações “interiorizadas” e semi-oníricas, que raramente funcionam bem (Sarah Polley sempre teve queda para exagerar no efeito visual “poético”), o essencial do filme é mesmo o que vem descrito no título: women talking, mulheres a falar. São as reuniões de um grupo de mulheres, onde se discute a melhor resposta a dar ao ultimato, em sessões de conversa onde, dentro dum universo reaccionaríssimo e ultra-retrógrado, se narra o nascimento de uma “consciência de classe” feminista e uma espécie de aprendizagem da ressurreição. Apesar das características muito particulares daquele mundo, onde a religião é preponderante (a questão do “perdão” é dissecada em vários ângulos, o religioso e o filosófico, mas também, digamos, o político e o legal), é fácil fazer a ponte entre A Voz das Mulheres e muitas discussões dos últimos anos, sobretudo a partir da eclosão do “#metoo”.
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