Macron enfrenta mobilização recorde contra reforma das pensões

Milhões de franceses saíram à rua e há novas greves e manifestações marcadas para os próximos dias. O Senado começou a debater o aumento da idade legal da reforma.

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As greves e os protestos em França vão continuar nos próximos dias MOHAMMED BADRA/EPA

A mobilização dos franceses contra a reforma do sistema de pensões proposta por Emmanuel Macron foi esta terça-feira maior do que alguma vez tinha sido nas cinco jornadas de contestação anteriores. Os sindicatos dizem que 3,5 milhões de pessoas estiveram nas manifestações que se realizaram em quase 300 cidades do país, enquanto o Governo aponta para 1,28 milhões. Apesar da discrepância habitual, ambos os números são os mais elevados desde que, a 19 de Janeiro, começou a contestação à lei.

E a greve vai continuar nos próximos dias em alguns sectores, prevendo-se perturbações pelo menos nos transportes públicos e nas refinarias. Ao fim do dia, o movimento intersindical convocou mais manifestações para o próximo sábado e para 15 de Março. “É um dia histórico. A intersindical unida não teve qualquer resposta do Governo. O silêncio do Presidente constitui um grave problema democrático”, denunciaram as organizações, que estão unidas pela primeira vez em vários anos para denunciar uma alteração à lei que consideram “injusta” e “desnecessária”.

A reforma que está actualmente em discussão na câmara alta do Parlamento francês, o Senado, prevê o aumento progressivo da idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos até 2030 e, a partir de 2027, um mínimo de 43 anos de descontos para ter direito à reforma por inteiro. É a segunda vez que Macron tenta fazer estas alterações à lei, depois de em 2019 ter desistido perante a enorme contestação popular que também então se gerou.

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Os franceses estão a protestar contra o aumento progressivo da idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos até 2030. 

Reuters,Joana Bourgard

Para esta terça-feira os sindicatos tinham prometido paralisar França e a greve geral teve uma forte adesão entre ferroviários, funcionários públicos e trabalhadores das centrais nucleares e barragens. Os comboios circularam com grandes perturbações, os transportes públicos em Paris funcionaram a menos de meio-gás, houve escolas fechadas e diminuição na produção de electricidade.

“Estamos perante um evento histórico no nosso país: uma mobilização social como não víamos há pelo menos 30 ou 40 anos, que abrange todas as regiões, todas as profissões, todas as gerações”, rejubilou, em Marselha, Jean-Luc Mélenchon, líder do partido A França Insubmissa e figura tutelar da união de partidos de esquerda NUPES. “O Presidente da República é directa e pessoalmente responsável por esta situação, por isso compete-lhe abrir uma porta de saída”, afirmou, apontando três caminhos a Macron: desistir da reforma, colocá-la a referendo ou dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições.

Macron, que regressou no domingo de um périplo a quatro países africanos, tem-se mantido em silêncio desde então, deixando ao Governo a gestão da crise. Na segunda-feira à noite, a primeira-ministra foi à televisão France 5 argumentar que as alterações à lei serão benéficas. “Há 1,8 milhões de reformados que vão beneficiar de um aumento das suas pensões a partir deste ano de em média 600 euros por ano”, disse Élisabeth Borne, acrescentando que, no futuro, “um em cada quatro franceses [receberá mais] 400 euros por ano, em média.”

A monitorização das manifestações desta terça feita pelas autoridades, pelos sindicatos e pela imprensa mostra que em grande parte dos locais onde se realizaram houve mais gente na rua do que em ocasiões anteriores. Em Paris, segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), terão sido 700 mil pessoas. Para a polícia, no entanto, o número de manifestantes não terá ido além dos 81 mil, o que na sua contabilidade a coloca entre as menos participadas.

A capital foi um dos sítios em que os protestos descambaram em violência. Na Place d’Italie, onde terminou a manifestação, a polícia foi recebida à pedrada e disparou balas de borracha e gás lacrimogéneo contra os manifestantes. Foram detidas 43 pessoas.

Entretanto, no Senado, começou ao fim do dia o debate sobre o artigo sete da lei, em que se estabelece o aumento da idade legal da reforma. Toda a lei tem de ser totalmente discutida e votada até ao próximo domingo.

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