UE reescreve acordo de diplomacia climática para resolver atritos sobre energia nuclear

Documento que define os objectivos europeus para as negociações para a COP28 está encalhado devido a desentendimentos sobre inclusão de hidrogénio de origem nuclear.

Foto
Central nuclear Doel, em Antuérpia, da unidade belga da empresa francesa Engie Reuters/FRANCOIS LENOIR

Os países da União Europeia querem introduzir o incentivo a uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis a nível global entre as suas prioridades de diplomacia climática em 2023. A UE espera aprovar o documento com as prioridades ainda esta semana, depois de ter sido necessário reescrever uma secção sobre energia nuclear que se tornou um ponto de discórdia.

O projecto de texto visa estabelecer as prioridades diplomáticas da UE tendo em vista a cimeira climática da ONU deste ano (COP28), onde cerca de 200 países irão negociar esforços conjuntos para travar as alterações climáticas.

Numa versão preliminar do texto, a que a Reuters teve acesso esta segunda-feira, lê-se que a UE apoia uma mudança global para o abandono dos combustíveis fósseis. "A mudança para uma economia neutra do ponto de vista climático exigirá a eliminação gradual global dos combustíveis fósseis sem captura de carbono [unabated fossil fuels]", lê-se nessa versão. "A UE irá promover e apelar sistematicamente a uma mudança global para sistemas energéticos livres de combustíveis fósseis não atenuados, muito antes de 2050".

Alguns países esperam que a cimeira deste ano possa concluir com um acordo sobre a eliminação gradual da utilização de combustíveis fósseis emissores de CO2 - não apenas carvão, como já foi acordado em anteriores negociações, mas também petróleo e gás.

Uma proposta da Índia neste sentido ganhou algum apoio na cimeira climática das Nações Unidas do ano passado (a COP27, no Egipto), mas encontrou oposição da Arábia Saudita e de outras nações produtoras de petróleo e gás.

Energia nuclear na transição ecológica?

Os diplomatas dos países da UE tentam agora finalizar o texto até esta quarta-feira, seguindo-se aprovação formal por parte dos ministros dos 27 países. A aprovação está a atrasar-se, contudo, devido a desentendimentos sobre o papel da energia nuclear na transição ecológica.

Especificamente, os países não têm chegado a acordo sobre se a diplomacia europeia deveria promover "hidrogénio de baixo carbono" - ou seja, produzido a partir de energia nuclear - ou focar-se em hidrogénio produzido por fontes de energia renovável.

Esta matéria tem dividido os Estados-membros. Países como França (cerca de 70% da electricidade francesa é de origem nuclear), Hungria e República Checa querem mais políticas europeias que promovam o "hidrogénio de baixo carbono", enquanto países como Alemanha e Espanha alertam que isso poderá dificultar os esforços para impulsionar a expansão massiva das energias renováveis.

A versão preliminar do documento não especifica que tipo de hidrogénio a UE irá promover: "A diplomacia energética europeia promove o desenvolvimento de mercados de hidrogénio transparentes, baseados em regras e sem distorções", lê-se no documento a que a Reuters teve acesso, que acrescenta que a diplomacia da UE também deve promover "tecnologias de baixo carbono" sustentáveis.

As questões relacionadas com a energia nuclear já colocaram obstáculos a outras negociações da UE sobre objectivos para energias renováveis. Alguns diplomatas receiam que os desentendimentos possam atrasar outra legislação necessária para atingir os objectivos climáticos.