Um estudo da Universidade de Monash, na Austrália, revela esta segunda-feira que apenas 0,18% da área terrestre do planeta e 0,001% da população global foram expostos em 2019 a níveis de partículas finas na atmosfera abaixo dos mais recentes níveis de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As partículas finas, conhecidas como PM2.5, são partículas em suspensão com um diâmetro inferior a 2,5 micrómetros. Estas partículas, associadas ao uso de combustíveis fósseis, têm sido ligadas a mortes causadas por doenças cardíacas ou pulmonares e, de acordo com a OMS, são uma das maiores ameaças ambientais à saúde humana, a par das alterações climáticas. As directrizes de qualidade do ar mais recentes da OMS, publicadas em 2021, recomendam que a concentração de partículas finas não exceda a média anual de cinco microgramas por m³ (metro cúbico).
Existe uma falta de estações de monitorização da poluição do ar a nível mundial, o que se tem traduzido em lacunas nos dados sobre a exposição local, nacional, regional e global a partículas finas. O estudo publicado na revista científica The Lancet Planetary Health traz um importante mapa de como evoluiu a concentração de PM2.5 nas duas últimas décadas por todo o mundo, procurando traçar estimativas globais das concentrações diárias de partículas finas no ambiente com recurso a inteligência artificial.
Para avaliar com maior precisão as concentrações de PM2.5 a nível mundial, a equipa liderada pelo investigador Yuming Guo, da Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Universidade de Monash em Melbourne, Austrália, recorreu a observações tradicionais de monitorização da qualidade do ar, detectores meteorológicos e de poluição atmosférica por satélite, métodos estatísticos e de machine learning, ou seja, sistemas de inteligência artificial programados para aprender com os dados.
“Neste estudo, utilizámos uma abordagem inovadora de machine learning para integrar múltiplas informações meteorológicas e geológicas para estimar as concentrações diárias globais de PM2.5”, afirma o investigador, citado em comunicado. Assim, foi possível aos investigadores analisarem os dados entre 2000 e 2019 a uma alta resolução, explica ainda Yuming Guo.
Exposição desigual
Em 2019, em mais de 70% dos dias houve concentrações de PM2.5 superiores a 15 microgramas por m³ que é considerado o limite seguro diário pela OMS. A equipa concluiu, contudo, que continua a existir uma desigual exposição da população às concentrações nocivas de partículas finas.
"Com base no novo limite da directriz 2021 da OMS, apenas 0,18% da área terrestre global e 0,001% da população global foram expostos a uma exposição anual inferior a este limite da directriz (média anual de 5 microgramas/m³) em 2019", refere o comunicado de imprensa sobre o estudo.
As concentrações mais elevadas de PM2.5 foram distribuídas nas regiões da Ásia Oriental (50 microgramas por m³) e do Sul da Ásia (37,2), seguidas pelo Norte de África (30,1). Austrália e Nova Zelândia (8,5 microgramas por m³), outras regiões da Oceânia (12,6) e a América do Sul (15,6) tiveram as concentrações anuais mais baixas de partículas finas.
Estes dados estão em linha com os dados sobre a qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS), que no ano passado mostrava que 99% da população do planeta respira ar com níveis de poluição que excedem os limites considerados aceitáveis. As pessoas que vivem nos países de baixos rendimentos são as mais expostas à poluição por partículas finas e dióxido de azoto, que põem em risco a sua saúde e causam mortalidade prematura.
Em 2020, a poluição do ar provocou a morte prematura de pelo menos 238 mil pessoas na União Europeia, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA). Naquele ano, na UE, 96% da população das cidades esteve exposta a concentrações de partículas finas PM2.5 superiores ao recomendado.
Na União Europeia, os níveis máximos permitidos das partículas PM2.5 no ar são de 25 microgramas por m³, bastante acima da recomendação da OMS de apenas cinco microgramas por m³, estabelecido em 2021. Uma proposta da Comissão Europeia para a revisão da Directiva de Qualidade Ar lançava a possibilidade de reduzir - mas só em 2030 - este limite anual em mais de metade, para 10 microgramas por m³.
Já nos Estados Unidos, existe actualmente uma proposta de revisão da regulamentação da Agência de Protecção Ambiental (EPA) sobre esta matéria para que os valores máximos das PM2.5 passem dos actuais 12 microgramas por m³ actuais para um nível entre nove e dez microgramas por m³.