Morreu Steve Mackey, o baixista dos Pulp

Não era membro fundador mas, tendo integrado a banda em 1989, foi uma parte indispensável do seu período mais fértil, o de His’n’Hers ou Different Class. Tinha 56 anos.

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Steve Mackey com os Pulp em 2011, ano em que também passaram por Paredes de Coura Gary Wolstenholme/Getty Images

Quando chegou, achava que não seria fácil integrar-se num grupo como os Pulp, elo de uma linhagem britânica de bandas saídas de escolas de arte cujo som, não por acaso, viria a ser definido como art rock. Mas não só se integrou, pela elegância pop, muito clássica, da indumentária, como se tornou, graças ao balanço dançável imprimido pelo seu baixo, elemento fundamental nos anos clássicos da banda. Steve Mackey, baixista dos Pulp, morreu esta quinta-feira, aos 56 anos.

A notícia foi dada pela sua mulher, a jornalista e designer de moda Katie Grand, através de uma publicação no Instagram. “Depois de três meses no hospital, lutando com todas as suas forças e com toda a determinação, estamos chocados e devastados por ter dito adeus ao meu brilhante, bonito marido, Steve Mackey. Steve morreu hoje [quinta-feira], uma perda que me deixou, ao seu filho Marley, aos seus pais Kath e Paul, à irmã Michelle e a muitos amigos de coração partido”, escreveu Katie Grand, descrevendo o baixista como “o homem mais talentoso” que conheceu, “um músico, produtor, fotógrafo e cineasta excepcional”.

Os Pulp iniciarão em Maio deste ano uma digressão de reunião, na qual Mackey anunciou, em Outubro do ano passado, que não participaria. “Estou incrivelmente orgulhoso do corpo de trabalho que criámos juntos. Contudo, decidi continuar a trabalhar naquilo em que estou envolvido – música, cinema e projectos de fotografia.”

Apesar de não ter estado na fundação da banda, Steve Mackey é reconhecido como membro de pleno direito da formação clássica dos autores de Common people. Nascido em Sheffield, tocava em pequenas bandas da cidade quando uma amizade firmada com Jarvis Cocker o conduziu aos Pulp. Convidado a juntar-se-lhes em 1989, foi assaltado pela dúvida. “Eu andava em bandas bastante ruidosas, bandas de garagem, e os Pulp eram como que uma art band, [o cenário] não parecia muito acolhedor”, dizia em 1996, como agora lembra o Guardian. Acabou por ficar, porém, e gravou o primeiro álbum com o seu novo grupo, Separations, em 1992: no tempo certo para participar do período mais criativo e de maior sucesso dos Pulp.

His’n’Hers (1994) e, no ano seguinte, Different Class transformaram-nos instantaneamente em estrelas de grandeza maior dos anos da Britpop, donos e senhores de uma pista de dança em que se imolavam as angústias e tristes banalidades da sociedade contemporânea – e aí seria determinante o interesse de Mackey pelo groove das várias declinações da música dita de dança. O baixista não se deteve e aproveitou tudo o que o estrelato tinha para oferecer. “Se estiveres numa banda de sucesso, o melhor será desfrutar o momento”, afirmava há quase três décadas, em declarações agora recuperadas pela BBC. "Estávamos a fazer aquilo que sempre quisemos [fazer] e não julgo que haja qualquer problema em ser pateta."

Depois da separação dos Pulp, em 2002, abrindo um hiato que se prolongaria durante quase dez anos, Steve Mackey trabalhou como produtor e co-compositor com nomes como M.I.A., Arcade Fire, Florence + The Machine ou The Horrors, colaborou com Jarvis Cocker nos álbuns a solo deste ou com os Spiritualized em And Nothing Hurt. Vimo-lo ainda em tela, em 2005, em Harry Potter e o Cálice do Fogo – era um dos Weird Sisters, verdadeira super-banda que surgia no filme, formada, além dele, por Jarvis Cocker e dois Radiohead, Jonny Greenwood e Phil Selway.

Paralelamente à sua carreira de músico (viria a integrar novamente os Pulp quando da sua reunião em 2011, que passou pelo festival de Paredes de Coura), desenvolveu trabalho enquanto fotógrafo de moda e autor de vídeos para a Armani, Miu Miu, Gucci ou Yves Saint Laurent.

Os Pulp publicaram nas suas redes sociais uma foto d0 "adorado amigo" Steve Mackey num trilho nos Andes. Em 2012, durante uma digressão da banda, convenceu os companheiros a escalar a cordilheira. "O Steve fazia as coisas acontecer, na sua vida e na banda, e queremos imaginar que ele está novamente naquelas montanhas, na fase seguinte da sua aventura."

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