A partir de imagens de satélite, é possível observar a fluorescência causada pela proliferação do fitoplâncton, com padrões de cores espalhados pelo mar por quilómetros. Estes fenómenos sempre ocorreram, mas parecem estar a tornar-se mais frequentes. De acordo com um novo estudo, nas últimas duas décadas, os conhecidos blooms de algas aumentaram nas regiões costeiras no mundo, revela um artigo publicado nesta quarta-feira na revista Nature.
“Mapeámos os blooms de algas marinhas nas regiões costeiras entre 2003 e 2020 usando observações de satélites globais com uma resolução espacial de um quilómetro”, lê-se no artigo científico de uma equipa internacional de cientistas, encabeçada por Yanhui Dai, da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, em Shenzen, na China. “A nível global, a extensão espacial e a frequência aumentaram significativamente durante o período de estudo.”
O resultado das observações mostrou que ao longo daqueles 18 anos a extensão espacial dos fenómenos de proliferação de algas aumentou 13,2% e a frequência aumentou 59,2%. Além disso, dos 153 países costeiros existentes no planeta, em 126 há blooms, incluindo Portugal.
O fitoplâncton é composto por uma panóplia de microrganismos flutuadores que fazem fotossíntese. Quando há uma multiplicação súbita de um ou de algumas das espécies destes microrganismos, ocorre uma proliferação conhecida como blooms. Este fenómeno pode ocorrer tanto em rios e lagos, como no próprio mar.
O aumento de calor e a disponibilidade de nutrientes podem levar a estes blooms. No entanto, a descarga de fertilizantes que escoa da agricultura e vai parar aos oceanos é responsável por muitos daqueles eventos.
“Muitos blooms de algas são benéficos, fixando carbono na base da cadeia alimentar, e são o suporte de cardumes de pesca e dos ecossistemas a nível global”, lê-se no artigo. “No entanto, a proliferação prejudicial de algas tornou-se um problema mundial.”
Algumas espécies de algas produzem toxinas que em excesso podem matar indivíduos de outras espécies que se alimentem das algas. Por outro lado, devido à enorme quantidade de biomassa que surge nestes fenómenos, quando as bactérias degradam esta matéria orgânica toda – depois da morte das algas –, há um enorme gasto de oxigénio. Esse consumo pode criar bolsas nos oceanos sem oxigénio, provocando a morte dos organismos que atravessam aquelas regiões.
Segundo os autores, devido à “grande escala” destes fenómenos, é difícil estudá-los e perceber qual é a tendência, se há cada vez mais eventos da proliferação de algas ou não. Por isso, a equipa recorreu a 760.000 imagens obtidas pelo satélite Aqua da NASA, a agência espacial norte-americana.
As imagens de satélite detectam a fluorescência emitida pelo excesso de fitoplâncton. “No entanto, não é possível distinguir se os blooms produzem toxinas ou se são prejudiciais a partir da informação de satélite”, avisa o artigo.
No entanto, o cenário de proliferação não é igual para todas as regiões da Terra. Enquanto regiões costeiras como no Alasca, nas Canárias e nas Malvinas aumentaram a frequência de eventos, há outras que diminuíram. “Os blooms enfraqueceram nas áreas tropicais e subtropicais do hemisfério norte”, segundo o estudo, que poderá servir para o “desenvolvimento de modelos de previsão que podem ajudar a minimizar as consequências dos blooms prejudiciais”.