Covid-19. Vacinação deve ter estratégia sazonal para vulneráveis, afirma a DGS

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, defendeu, na audição da Comissão de Saúde pedida pelo Chega, a criação de uma campanha sazonal de vacinação contra a covid-19, como acontece com a da gripe.

Foto
Graça Freitas adiantou que a indústria farmacêutica está a trabalhar numa vacina bivalente contra a Covid-19 e a gripe LUSA/TIAGO PETINGA

A directora-geral da Saúde afirmou esta quarta-feira que Portugal deve adoptar uma estratégia sazonal de vacinação dos grupos vulneráveis contra a covid-19, através de uma campanha semelhante à realizada anualmente para a gripe.

“Tirando a incógnita que todos temos sobre uma nova variante – estamos aparentemente sossegados, mas o vírus continua a mexer-se –, a tendência vai ser para que a vacina contra a covid-19 seja utilizada numa estratégia sazonal de protecção das pessoas mais vulneráveis, uma campanha sazonal parecida com a da gripe”, adiantou Graça Freitas.

Numa audição na Comissão de Saúde a pedido do grupo parlamentar do Chega, a directora-geral adiantou que a indústria farmacêutica já está a trabalhar numa vacina bivalente que tenha os antigénios para os vírus que provocam a covid-19 e a gripe.

Desde o final de 2020, quando arrancou a campanha de vacinação contra a covid-19 em Portugal, já foram administradas cerca de 28 milhões de doses no país.

Graça Freitas manifestou-se ainda convicta de que as campanhas sazonais contra o coronavírus SARS-CoV-2 terão uma adesão da população “que não será inferior” à vacinação contra a gripe, que, neste momento, é de cerca de 75% da população-alvo maior de 65 anos.

Perante os deputados, a directora-geral da Saúde salientou também que foram os mecanismos europeus para a compra centralizada de vacinas que “permitiram a todos os países – aos 27 – em igualdade e em tempo útil ter acesso a vacinas seguras e eficazes”.

“Não teria havido vacinação em Portugal primeiro se não tivesse havido Europa”, assegurou a responsável da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que recusou que tenha sido um “milagre” o surgimento das vacinas contra a covid-19 meses depois do início da pandemia.

“Ao contrário do que se diz, não foi por um milagre que em poucos meses surgiu uma nova vacina. Há muitos anos que [os laboratórios] estavam a trabalhar nela, mas estavam à espera da oportunidade e do financiamento para a produzir”, disse Graça Freitas.

Sobre a pandemia, a directora-geral recordou que os primeiros meses foram marcados por “um grande grau de incerteza” sobre a sua evolução e que as autoridades de saúde apenas tinham ao seu dispor medidas de saúde pública não farmacológicas, uma vez que a vacina surgiu em Dezembro 2020 e em "quantidades simbólicas”.

“Foi a primeira vez que fomos sujeitos a um acontecimento desta dimensão, amplificado por ser em directo. Estávamos a ver a pandemia ‘online’ e, portanto, a pandemia valia por o que ela era e valia pelas nossas percepções, enquanto cidadãos e profissionais. Foi em tempo real”, salientou.

Já sobre as decisões que teve de tomar, enquanto autoridade nacional de saúde, Graça Freitas garantiu aos deputados que foram baseadas nas posições emanadas pelas instituições internacionais de referência nesta área, como a Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.

“Muitas das minhas afirmações – algumas, não deixando de ser verdadeiras, são completamente descontextualizadas disse-as respaldada no que era na altura a opinião destas instituições de referência”, garantiu Graça Freitas.

“Quem comandou a pandemia no início foi mesmo o vírus”, reconheceu a ainda directora-geral, que, no final de 2022, comunicou ao ministro da Saúde que não pretendia manter-se no cargo que assume desde 2017.