A morte de um burocrata inglês
Não é um filme desagradável, embora o que parecia ao princípio um domínio pensado da mise en scène se vá tornando em simples afectação.
Viver baseia-se explicitamente num filme de Akira Kurosawa (Ikiru, de 1952, conhecido também por este título, Viver), certamente um dos melhores e mais combalidos exemplos da faceta intimista do realizador japonês. Com argumento assinado por um escritor reputado, Kazuo Ishiguro, o filme de Oliver Hermanus transpõe a acção para a Inglaterra contemporânea do filme de Kurosawa (a viragem dos 1940s para os 1950s), mantendo o essencial da trama narrativa: os últimos dias de um apagado burocrata, a quem um diagnóstico de doença terminal traz uma mistura de libertação e arrependimento por uma vida que ficou aquém do que podia ter sido — sentimentos bem resumidos numa das melhores cenas do filme de Hermanus, quando o protagonista pede ajuda a um estranho para se “divertir” porque já não sabe como raio é que isso se faz.
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